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Olá amigos!

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domingo, 3 de junho de 2012

O Príncipe Pobre



Era uma vez um príncipe bom e simples, que resolveu se casar.
Achou que era grande atrevimento perguntar à filha do imperador se o queria por esposo, já que não era tão rico assim; mas decidiu-se a fazê-lo porque a fama do seu honrado nome se estendia por toda parte.
Acontece que, no lugar onde o pai estava enterrado, tinha crescido uma esplêndida roseira que só dava flor de cinco em cinco anos e, mesmo nestas ocasiões, só nascia uma rosa; era, porém, uma rosa magnífica, que exalava um aroma tão suave e delicioso que quem o aspirava esquecia todas as suas tristezas e inquietações.
O príncipe também possuía um rouxinol; cantava com voz tão harmoniosa que parecia ter na garganta todas as melodias da terra.
O nosso príncipe resolveu oferecer à princesa estas duas raridades como prova do seu amor; colocou-as em dois preciosos cofres de prata e enviou-as à sua amada.
O imperador mandou que levassem a oferta para um amplo salão onde estava a filha a divertir-se com as damas da corte. Quando a princesa viu os cofres, começou a bater palmas em sinal de regozijo, exclamando:
- Que alegria, se algum deles contiver uma linda prenda!
Mas, aberto o primeiro, apareceu a linda roseira com a sua magnífica rosa, e quando a princesa a viu foi tal a sua desilusão que esteve a ponto de chorar.
- Ora, meu pai! - exclamou ela, muito amargurada.
- Vamos ver o que contém o outro cofre. - lembrou o imperador.
Abriu-se o segundo, e saiu de dentro o rouxinol, que começou a cantar de maneira tão suave e melodiosa que todos ficaram encantados... todos menos a princesa, que o considerou com indiferença.
- Parece-me que não é verdadeiro. - disse ela.
- É sim, princesa. - responderam os que o tinham trazido.
- Neste caso, soltem-no. - acrescentou ela.
E não quis de forma alguma ver o príncipe.
Mas este não perdeu por isso a esperança. Sujou o rosto com lama, enfiou o chapéu até as orelhas e foi bater à porta do imperador.
- Deus traga felizes dias a Vossa Majestade Imperial! - disse ele. - Há qualquer lugar no palácio que me possam dar?
- Sim, por acaso, - respondeu o imperador - preciso de uma pessoa que cuide da grande quantidade de porcos que tenho.
E o príncipe foi nomeado "Porqueiro Imperial". Passou o dia inteiro trabalhando num casebre imundo, contíguo ao curral, que lhe indicaram como seu quarto; ao fim da tarde tinha já feito uma linda caçarola enfeitada com umas campainhas penduradas em redor; e quando se punha ao fogo e o conteúdo fervia, as campainhas tocavam alegremente, fazendo ouvir uma antiga canção.
A propriedade mais curiosa daquela caçarola era que, se alguém introduzia o dedo no vapor que se desprendia, e depois o aproximava do nariz, sentia o cheiro de todos os cozidos que se estavam fazendo nos fornos e fogões da cidade.
Por sorte aconteceu que a princesa, no seu habitual passeio, chegou defronte do quarto do porqueiro; e ao ouvir a antiga canção, parou admirada, porque era a única peça de música que sabia.
- Ouçam! É a minha música! Este porqueiro deve ser uma pessoa instruída e bem educada. Perguntem-lhe quanto quer por esse instrumento.
Uma das damas entrou no casebre e perguntou:
- Quanto queres por essa caçarola?
- Dez beijos da princesa. - respondeu o porqueiro.
- Que atrevido! - exclamou a dama indignada.
- Que disse ele? - indagou a princesa.
E a dama repetiu ao ouvido da princesa as palavras do porqueiro.
- É um atrevido - disse esta e continuou seu caminho.
Tinha dado apenas alguns passos, e as campainhas começaram de novo a soar tão harmoniosamente que parou outra vez.
- Vão perguntar-lhe - ordenou a jovem - se ele quer dez beijos das minhas damas.
- Não, obrigado, - foi a resposta do porqueiro - dez beijos da princesa ou fico com a caçarola.
- Faça-se a tua vontade - disse, por fim, a princesa. - Mas coloquem-se todas em roda de mim para que ninguém nos veja.
As damas da corte assim o fizeram e encobriram bem os dois, com suas saias.
O porqueiro recebeu os beijos e a princesa a caçarola.
Foi depois um grande divertimento. A caçarola esteve fervendo ao fogo toda a noite e todo o dia seguinte e não houve ninguém no palácio que não ficasse sabendo o que se estava cozinhando em todas as casas, desde a do mais nobre até a do mais pobre. As damas da corte dançavam e mostravam-se contentíssimas.
- Agora sabemos - diziam elas, entusiasmadas - quem é que hoje come sopas e quem come pastéis; quem tem doces e quem só tem frutas. Que interessante isto é!
Entretanto, o porqueiro, quer dizer, o príncipe, que, como sabemos, assim se tinha disfarçado, não deixava passar um só dia sem fazer qualquer trabalho; compôs uma espécie de roca que, quando a faziam girar, tocava todas as músicas populares.
- Que maravilha! - exclamou a princesa, que a ouviu quando ia passando. - Perguntem-lhe quanto quer por esse instrumento.
- Dez beijos dos lábios de Vossa Alteza. - voltou dizendo a dama que tinha ido levar o recado da sua senhora.
- Parece-me que não está em seu juízo. - disse a princesa, e continuou no seu passeio. Mas tinha dado apenas alguns passos, quando parou dizendo:
- Temos o dever de animar os artistas. Digam-lhe que lhe pagaremos com um beijo meu e um de cada uma das minhas damas.
- Mas nós não estamos dispostas a dá-los! - protestaram as damas em coro.
- Que dizeis??? - exclamou a princesa, indignada. - Então eu posso dá-los e vós não podeis?
As damas tiveram de entrar pela segunda vez no quarto do porqueiro, fazendo-lhe nova proposta.
- Dez beijos dos lábios da princesa. - repetiu inalterável o ousado porqueiro.
- Ponham-se em volta de mim. - ordenou aquela, vendo que não tinha outro jeito.
E as damas colocaram-se em torno da princesa, encobrindo-a com suas saias, enquanto ela dava os beijos no porqueiro.
- Que será aquela aglomeração junto do curral? - notou, curioso, o imperador, chegando-se a uma das janelas do palácio. - Vou eu mesmo ver o que é aquilo.
Desceu ao jardim e, andando nas pontas dos pés, aproximou-se sem fazer barulho do grupo formado pelas damas; estas estavam tão entretidas na tarefa de contar os beijos da sua senhora no porqueiro que não deram pela chegada do imperador.
- Que significa isto? - exclamou o soberano, ao ver o que estava acontecendo. E, indignado, deu um repelão na princesa no momento em que esta dava o beijo número seis.
- Fora daqui! - rugiu o imperador, cego de cólera.
E a princesa e o porqueiro foram expulsos da cidade.
- Ai de mim, - soluçava a princesa, desolada - por que não havia eu de ter casado com aquele príncipe tão gentil? Como sou desgraçada!
Então o porqueiro se escondeu atrás de uma árvore, tirou toda a lama que lhe escondia o semblante, desfez-se das roupas esfarrapadas e apareceu com seu traje principesco, tão nobre que a princesa se inclinou reverentemente.
- Tens o que mereces. - disse-lhe o príncipe. - Não quiseste receber como esposo um príncipe nobre e honrado; não soubeste apreciar o valor da rosa e do rouxinol; e, no entanto, não te custou nada dar beijos num porqueiro imundo em troca de uma futilidade.
E o príncipe girou sobre os calcanhares e partiu, só, em direção ao seu reino.

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