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Olá amigos!

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domingo, 3 de junho de 2012

As Três Noites no Castelo Encantado



Houve na Espanha um verão terrivelmente seco; quando chegou o outono, a colheita foi nula. Muitos camponeses percorriam o país em busca de trabalho e de comida; encontrava-se entre eles um guapo rapaz, cujo nome era João. Os pais tinham morrido e como seu amo estava arruinado, o infeliz encontrou-se sem lar.
Meio morto de fome, chegou João uma noite à cidade de Granada e, não encontrando melhor alojamento, estendeu-se a dormir sobre a erva que crescia entre as ruínas de um antigo castelo mourisco. Mas, apenas fechou os olhos, sentiu que lhe tocavam no ombro e, olhando sobressaltado, viu uma mão que pegava numa vela acesa, e lhe fazia sinais para que a seguisse; o pobre João, que estava morto de fome, foi atrás da mão, intrigado com a aventura.
Foi assim conduzido a um esplêndido salão, em cujo centro havia uma mesa coberta de manjares delicados; João sentiu-se louco de alegria; fartou-se de comer. A mão, então, fez-lhe novos sinais, e guiou-o a um aposento luxuosíssimo, no qual se via um leito régio.
O rapaz despiu seus farrapos, vestiu uma camisa de dormir de pura seda que encontrou entre um montão de magníficos trajes e, deitando-se na cama, adormeceu profundamente.
Quando os relógios de Granada bateram as doze, sentiu a mão despertá-lo e ouviu uma voz melodiosa que lhe dizia:
- João, tu, seguindo-me, deste provas de um grande valor. És a primeira pessoa que a tal se atreveu. Queres mostrar-te agora mais valente ainda e libertar uma fraca e desventurosa jovem do encantamento que sofre?
- Que devo fazer? - indagou João
- Deves permanecer nesta cama pelo espaço de três dias e três noites, - respondeu-lhe a voz - sem te moveres nem gritares, façam-te o que te fizerem.
- Muito bem, - respondeu o rapaz - tentá-lo-ei.
Na primeira noite, veio um bando de espíritos, munidos de pau, e espancaram o desgraçado até não lhe deixar um único osso inteiro no corpo. Mas, quando chegou o dia, apareceu-lhe a mão, que lhe trazia um refrigerante juntamente com um bálsamo mágico, que lhe curou as feridas.
Na segunda noite, espancaram-no de novo, mas o bom João não moveu os lábios nem se mexeu; e, na manhã seguinte, trouxe-lhe outra vez a mão uma droga mágica, que, de igual modo, lhe curou as feridas.
A prova da terceira noite foi espantosa. E, ao nascer do dia, não veio a mão em seu socorro. Em lugar dela, porém, apresentou-se-lhe ante os olhos atônitos uma jovem princesa, que o banhou com uma água mágica, com o que ficou como se coisa alguma de mal lhe tivesse acontecido.
João vestiu um traje magnífico;e, dirigindo-se ao salão onde a mesa estava posta, comeu com a princesa.
- És espanhola? - perguntou-lhe João.
- Não, - respondeu ela - sou filha do sultão do Marrocos; e agora que me vejo livre do encantamento que sofria, tenho que voltar já para o palácio de meu pai. Procura-me e encontrar-me-ás.
Dito isso, a princesa desapareceu, e João encontrou-se de novo pobre e coberto de farrapos, sentado sobre a erva que crescia por entre as ruínas do antigo castelo mouro.
Outro qualquer, menos corajoso do que o nosso herói, ter-se-ia deixado ficar inativo, desanimado. Além do mais, não era apenas a ambição que o estimulava. Ele sentiu que se apaixonara pela princesa, que difícil ou impossível seria esquecê-la. E decidiu-se.
Cheio de resolução e intrepidez, pôs-se sem demora a caminho em busca da princesa; mas, como não tinha dinheiro para pagar a viagem, levou muitíssimo tempo até chegar ao palácio do sultão. A princesa, entretanto, crendo que o pobre moço não lhe tinha sido fiel, em virtude da longa demora, ajustara casamento com o rei da Arábia.
Ao subir para o coche nupcial, avistou o pobre João, que, coberto de andrajos, e com os olhos rasos de lágrimas, a contemplava, de pé, à porta do palácio.
- Há algum tempo, - disse então ao rei da Arábia a princesa - perdi a chave do meu guarda- jóias e tive que arranjar outra nova. Acabo agora de encontrar a antiga; qual devo usar?
- A velha. - respondeu o rei da Arábia.
- Pois aqui está a chave antiga a que me queria referir. - disse ela, pegando na mão de João. - Este intrépido e valente mancebo foi quem, com sua bravura, conseguiu arrancar-me do palácio encantado onde eu estava. Portanto, senhor, caso-me com ele e vós podeis procurar livremente outra esposa. É o que acabais de me aconselhar.
E a bela princesa casou com João e os dois foram felizes para sempre...

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