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Olá amigos!

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domingo, 3 de junho de 2012

A Cinderela Indígena



Esta é uma lenda indígena canadense e mostra como a honestidade é recompensada e a falsidade, punida. Glooskap, mencionado no parágrafo inicial, era uma divindade dos índios que habitavam as florestas do leste do Canadá.
Havia, há muito tempo, um grande guerreiro indígena que vivia às margens de uma grande baía no litoral do Oceano Atlântico. Diziam que ele foi um dos melhores ajudantes e amigos do deus Glooskap, tendo sido o autor de muitos feitos extraordinários em seu auxílio. Mas quanto a isso, nada podem dizer os homens.
Entretanto, ele tinha um estranho e maravilhoso poder: o de tornar-se invísivel. Assim, conseguia infiltrar-se entre os inimigos e ouvir seus planos. Era conhecido junto ao seu povo como Vento Forte, o Invisível.
Morava com a irmã numa tenda perto do mar, e a irmã o ajudava bastante com seu trabalho. Muitas donzelas queriam desposá-lo, e era muito almejado por seus feitos; e todos sabiam que Vento Forte se casaria com a primeira que fosse capaz de vê-lo chegar em casa à noite. Quase todas tentaram, mas demorou muito até que uma delas conseguisse.
Vento Forte usava de um inteligente artifício para testar a veracidade daquelas que tentavam conquistá-lo. Todos os dias, ao entardecer, a irmã passeava pela praia com uma das jovens que desejavam empreender a tentativa. A irmã conseguia vê-lo sempre, mas só ela e mais ninguém.
Sob a luz do crepúsculo, ao vê-lo aproximar-se de casa, a irmã perguntava à pretendente: "Você está conseguindo vê-lo?" E todas mentiam: "Estou, sim!" A irmã, então, perguntava: "Com o quê ele está puxando o trenó?" E elas respondiam: "Com uma pele de alce", ou "Com um cajado", ou "Com uma corda". E a irmã logo via que era mentira, pois não passavam de tentativas de adivinhações.
Muitas foram as que tentaram e muitas foram as que mentiram; e todas falharam, pois Vento Forte não se casaria com quem não dissesse a verdade.
Vivia na aldeia um grande cacique com três filhas. A mãe das meninas morrera fazia muito tempo. Havia uma que era bem mais nova do que as outras. Era linda, amável e todos gostavam dela; e logo as irmãs passaram a ter ciúmes dos seus encantos e a tratarem-na muito mal.
Deram-lhe roupas esfarrapadas para que tivesse má aparência, cortaram-lhe os longos cabelos negros e jogaram-lhe em cima as brasas da fogueira para deixá-la marcada e com o rosto desfigurado. E mentiram ao pai, dizendo-lhe que ela própria tomara tais atitudes. Mas a jovem teve paciência e manteve o bom coração, continuando a fazer seus trabalhos com alegria e disposição.
Como outras jovens da ribo, as filhas mais velhas do chefe tentaram conquistar conquistar Vento Forte. Um dia, ao entardecer, foram passear pela praia com a irmã do guerreiro para esperar sua chegada. Ele não tardou a chegar, puxando seu trenó. E a irmã, como sempre, perguntou:
- Vocês estão conseguindo vê-lo?
E cada uma, mentindo, respondeu:
- Estou, sim!
E ela perguntou:
- De que é feita a alça a tiracolo?
E cada uma, tentando adivinhar, respondeu:
- De couro cru. E entraram na tenda onde esperavam encontrar Vento Forte preparando-se para jantar; quando ele tirou o manto e os mocassins, as jovens o viram, mas foi tudo que conseguiram enxergar. E ficou claro que haviam mentido; e Vento Forte manteve-se afastado; e elas foram embora, desiludidas.
Um dia, a filha mais nova do chefe, com seus andrajos e cicatrizes, resolveu procurar Vento Forte. Remendou as roupas com pedaços de casca das árvores, cingiu os poucos ornamentos que possuía e foi tentar ver o Guerreiro Invisível, como todas as outras moças da aldeia. E as irmãs caçoaram dela, chamando-a de "boba". E a caminho da praia, todos fizeram pilhéria da moça maltrapilha e de rosto marcado; mas ela prosseguiu em silêncio.
A irmã de Vento Forte recebeu a jovem com amabilidade e, ao baixar o crepúsculo, levou-a para a praia. O guerreiro não tardou a chegar em casa, puxando seu trenó. E a irmã perguntou:
- Você está conseguindo vê-lo? - e ela respondeu:
- Não. - e a irmã se surpreendeu muito, pois ela dissera a verdade. E tornou a perguntar:
- Você está conseguindo vê-lo agora?
- Estou, sim! E ele é maravilhoso!
- Com o que ele está puxando o trenó?
- Com o Arco-Íris. - respondeu a jovem, bastante assustada.
- De que é feito o arco?
- Da Via Láctea.
A irmã de Vento Forte sabia que, por ter a jovem respondido a verdade da primeira vez, o irmão se deixara ver. E ela disse:
- É verdade, você o viu.
E levou, então, a jovem filha do cacique para casa, preparou-lhe um banho, e todas as cicatrizes do rosto e do corpo desapareceram; seus cabelos cresceram novamente, negros como as asas dos corvos; e deu-lhe bonitas roupas para vestir e ricos adereços. Convidou-a em seguida a tomar o lugar de esposa na tenda. E logo Vento Forte entrou, indo sentar-se ao seu lado, e disse-lhe que ela era agora sua noiva.
No dia seguinte, ela se tornou sua esposa, e passou a ajudá-lo nos grandes feitos. Suas irmãs mais velhas ficaram furiosas e nunca chegaram a saber o que aconteceu. Mas Vento Forte, que sabia da crueldade das duas, resolveu castigá-las. Utilizando seu enorme poder, transformou-as em álamos e prendeu suas raízes bem fundo na terra.
Desde então, as folhas dos álamos tremem sempre, como medo do Vento Forte chegar, mesmo que ele venha tranqüilo, pois ainda recordam de sua força e ira nos castigos recebidos pelas mentiras que contaram e pelas maldades que faziam com a irmã muito tempo atrás.

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