Era uma vez um homem muito pobre. Sempre que ia à roça, encontrava a Mãe-D'Água, sentada numa pedra à beira do rio, com os longos cabelos soltos. Um dia, ele foi bem devagar e agarrou-a pelas costas. Depois de enorme trabalho conseguiu levá-la para casa e casou-se com ela. Antes, porém, de casar-se, ela lhe recomendou que nunca arrenegasse de gente de debaixo d'água.
Desde o dia em que se casou com a Mãe-D'Água, viu o homem que tudo começou a lhe correr bem. Foi-se tornando muito rico, fez uma casa muito bonita, teve muitos criados, muito gado e muitas terras.
A princípio, viveu muito bem com a mulher. Mais tarde, porém, quando ela começou a sentir saudades do seu rio, entendeu-se de ir embora e começou a aborrecê-lo todos os dias, por todos os meios e modos.
A casa estava sempre desarrumada e sem varrer, a comida era mal feita, os meninos andavam sujos e malcriados, os serviçais não obedeciam a ninguém. Era uma desordem de meter medo. Tudo de propósito, para que ele se zangasse.
Um dia, o homem não pôde mais suportar aquele verdadeiro inferno e acabou praguejando:
- Diabo! Arrenego de gente de debaixo d'água!
No mesmo instante, a moça levantou-se da cadeira onde estava sentada, e ele ouviu um estalo muito forte, abrindo-se um buraco enorme no meio da sala.
Então, a Mãe-D'Água começou a cantar:
Minha gente toda
é de xambariri
cai, cai, cai
no mundé!
A esta voz, todos os que estavam dentro da casa, filhos e empregados, foram chegando para a beira do buraco e caindo dentro dele.
Quando acabou de cair toda a gente, ela cantou:
Este dinheiro todo
é de xambariri
cai, cai, cai
no mundé!
O dinheiro que havia em casa, moedas de ouro, de prata e de cobre, foi caindo no poço: "tlin! tlin! tlin!"
Depois ela cantou:
A mobília toda
é de xambariri
cai, cai, cai
no mundé!
Foram-se embora todos os móveis, louças, baús e outros trastes. Depois ela cantou:
A bicharada toda
é de xambariri
cai, cai, cai
no mundé!
Lá se foram os bois, vacas, porcos, carneiros, galinhas; tudo o que havia de criação.
Por último, ela cantou:
Também esta casa
é de xambariri
cai, cai, cai
no mundé!
A casa mergulhou no poço e ela caiu atrás da casa. Tudo virou chão, desaparecendo o poço.
E o infeliz homem voltou a ser pobre, pobre como era antes...
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