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Olá amigos!

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domingo, 26 de agosto de 2012

Discurso direto e indireto


DISCURSO DIRETO:


01- Discurso direto - Reproduz a fala das personagens. O próprio

personagem fala. Antes fala do personagem existe um travessão.


Pode ser organizado de duas maneiras:


a- Explica-se quem vai falar. A frase termina por dois-pontos (:). Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala do personagem. Exemplo:
O Asno e o Velho Pastor

http://sitededicas.ne10.uol.com.br/gifs/figfab12.gifUm Pastor observava tranqüilo seu Asno pastando em uma verde pradaria. De repente, ouviu ao longe os gritos do inimigo que se aproximava. Ele rogou ao animal para que corresse com ele na garupa, o mais rápido que pudesse, a fim de que não fossem ambos capturados. Falou, com calma, o Asno:

- Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim, além dos dois cestos de carga que carrego, outros dois?
Respondeu o Pastor:
- Não.
Disse o animal:
- Então, contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo, que diferença faz
a quem estou servindo?

b- Registra-se, depois de posto o travessão, a fala do personagem. Na mesma linha coloca-se um outro travessão e, em seguida, a frase pela qual o narrador explica quem está dizendo aquilo (iniciada por letra minúscula). Exemplo:



O Asno e o Velho Pastor


Um Pastor observava tranqüilo seu Asno pastando em uma verde pradaria. De repente, ouviu ao longe os gritos do inimigo que se aproximava. Ele rogou ao animal para que corresse com ele na garupa, o mais rápido que pudesse, a fim de que não fossem ambos capturados.
- Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim, além dos dois cestos de carga que carrego, outros dois? – falou com calma o Asno.
- Não - respondeu o Pastor.
- Então - disse o animal - contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo,
que diferença faz a quem estou servindo?

Verbos que introduzem a fala, ou explicam quem está afirmando depois do travessão:
falar, perguntar, responder, indagar, replicar, argumentar, pedir, implorar, comentar, afirmar, acrescentar, concordar, consentir, contestar, continuar, declarar, determinar, dizer, esclarecer, exclamar, explicar, gritar, indagar, insistir, interrogar, interromper, intervir, mandar, ordenar, prosseguir, protestar, reclamar, repetir, retrucar, solicitar.


DISCURSO INDIRETO:

2- Discurso indireto: O narrador conta com suas próprias palavras o que o personagem diria. Funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor o que ouviu da personagem. Os verbos aparecem na 3ª pessoa do singular.
Exemplo:



O Asno e o Velho Pastor

Um Pastor observava tranqüilo seu Asno pastando em uma verde pradaria. De repente, ouviu ao longe os gritos do inimigo que se aproximava. Ele rogou ao animal para que corresse com ele na garupa, o mais rápido que pudesse, a fim de que não fossem ambos capturados.

O Asno perguntou ao Pastor com calma, por que ele deveria temer o inimigo e se ele não achava provável que o conquistador colocasse nele, além dos dois cestos de carga que carregava, mais outros dois.
O Pastor respondeu que não.
Então o animal disse que não faria diferença a quem estava servindo, contanto que
ele carregasse os dois cestos que já possuía.
 
Fonte:  http://piquiri.blogspot.com.br

A menina e sua boneca falante

  Carmen Apóstolo



A Menina e Sua Boneca Falante
(Carmen Apóstolo)
História Infantil


Maria Buscapé era uma criança que possuia a imaginação muito fértil.

Certa vez uma fada a presenteou com uma varinha de condão e, como o
seu sonho era possuir uma boneca Falante ,igual aquela que parecia surgir ,como por en-
canto, das páginas dos livros que costumava ler ,resolveu fazer sua mágica:
_Abra cadabra - abra cadabra ...

Apareceu, então , uma bonequinha cor de pixe , bem falante , com um olho preto e outro
vermelho, mas muito inteligente e esperta. Chamava a atenção pelos exageros dos traços ,
mas sempre se mostrando engraçada , obediente e gentil. Embora tivesse os olhos de cores
diferentes , esbugalhados e indagadores, ela piscava com tanta faceirice que conquistava
a atenção e benquerência de todos.Maria Buscapé, surpresa com os progressos de sua
bonequinha ,resolveu fazer -lhe uma pergunta:

_Com quem você aprendeu todas essas coisas tão boas ?

_Eu não sabia nada , nem falava, aprendi tudo agora.Eu vim lá da Terra do Seilá , da Flores-
ta do Desencantamento e você , minha dona, através de sua varinha mágica me deu vida e vocabulário. E agora que não sou mais tão feia...Você quer ser minha amiga para sempre ?
Maria ficou muito emocionada. Sua amiga falante parecia muito linda...Abraçou-a com muito
carinho e retribuiu com os mesmos sentimentos ,gravando bem o provérbio que sempre admirou:

“ QUEM O FEIO AMA BONITO LHE PARECE”

Discuros direto, indireto e indireto livre

Os textos abaixo servem de exemplo de :

Exemplo de discurso direto onde as personagens falam no texto em linguagem direta:

Margarida entrou em casa e viu sua mãe, que estava sentada em uma poltrona, folheando uma revista. Sem dizer nada, dirigiu-se à cozinha. A mãe a interpelou:
– Com quem você esteve?
– Com a Rosa e o Edu.
– Edu?
– É o irmão da Rosa – respondeu distraidamente.
– Você nunca me falou desse Edu.
– Eu o conheci há pouco tempo.
– E o que faz o Edu?
– Ora, mamãe, que curiosidade!

Ou ainda:

Ofélia perguntou devagar, com recato pelo que lhe acontecia:
– É um pinto?
Não olhei para ela.
– É um pinto, sim.
Da cozinha vinha o fraco piar. Ficamos em silêncio como se Jesus tivesse nascido. Ofélia respirava, respirava.
– Um pintinho? certificou-se em dúvida.
– Um pintinho, sim, disse eu guiando-a com cuidado para a vida.
– Ah, um pintinho, disse meditando.
– Um pintinho, disse eu sem brutalizá-la.
Já há alguns minutos eu me achava diante de uma criança. Fizera-se a metamorfose.
– Ele está na cozinha.
– Na cozinha? Repetiu fazendo-se de desentendida.
– Na cozinha, repeti pela primeira vez autoritária, sem acrescentar mais nada.
– Ah, na cozinha, disse Ofélia muito fingida, e olhou para o teto. (...).

(Clarice Lispector, A Legião Estrangeira)

E em outro estilo de discurso temos o discurso indireto onde as falas das personagens aparecem descritas pelo narrador:

No espelho de casa viu os olhos avolumando. Pensou nos Nereu. A cara arredondava pra caber os olhos crescidos. Inchavam, cresciam de dar medo. Duas bolas acesas na cara redonda do infeliz. Pensou na raiva. Chamou a mulher aos berros. Assustada, benzeu-se e entoou uma reza em voz alta. Era o coisa ruim! - dizia ela. Ele rezou também. De nada adiantou. Suas orelhas se movimentavam sem querer, à olhos vistos. Incharam e cresceram, cresceram de dar medo. As duas orelhas ficaram enormes, maiores que a cara. A mulher gritava. Ele espumava de raiva. Ela rezava fazendo o sinal da cruz. De nada adiantou.
(Reza braba – Ana Maria Maruggi)


Ou ainda:

Sorri — pois o que tinha a temer? Dei as boas-vindas aos senhores. O grito, disse, fora meu, num sonho. O velho, mencionei, estava fora, no campo. Acompanhei minhas visitas por toda a casa. Incentivei-os a procurar — procurar bem. Levei-os, por fim, ao quarto dele. Mostrei-lhes seus tesouros, seguro, imperturbável. No entusiasmo de minha confiança, levei cadeiras para o quarto e convidei-os para ali descansarem de seus afazeres, enquanto eu mesmo, na louca audácia de um triunfo perfeito, instalei minha própria cadeira exatamente no ponto sob o qual repousava o cadáver da vítima.
(O coração delator – Edgar Allan Poe)

Ou ainda:

Um discuso indireto livre, onde o narrador faz uso dos dois recursos: direto e indireto passando de um para outro:


Saltou pela traseira mesmo, sem pagar, os demais passageiros o olhavam, espantados, o trocador não teve tempo de protestar. Atirou-se num táxi que se deteve ante seus gestos frenéticos, foi direto à minha casa:

— Você tem que me ajudar a sair dessa.

Amigo é para essas coisas, mas não me dou por bom conselheiro em tais questões. Mal consigo eu próprio sair das minhas: a emenda em geral é pior do que o soneto. Ainda assim, tão logo ele me contou o que havia acontecido, ocorreu-me dizer que, se saída houvesse, ele teria que abrir mão de uma — com as duas é que não poderia ficar. Qual delas preferia?
(O golpe do comendador – Fernando Sabino)

Fonte:  oficinaideiaseideais.blogspot.com.br

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Problema

01. Em uma promoção numa revenda da carros, está sendo dado um desconto de 18% para pagamento à vista. Se um carro é anunciado por R$ 16.000,00, então o preço para pagamento à vista desse carro será:

a) R$ 13.120,00
b) R$ 13.220,00
c) R$ 13.320,00
d) R$ 13.420,00
e) R$ 13.520,00

Problemas

AS TRÊS PENEIRAS


        Um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar-lhe algo sobre alguém.

        Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:

        - O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?

        - Três peneiras?  - indagou o rapaz.

        - Sim ! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar?  Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta?
        Arremata Sócrates:
        - Se passou pelas três peneiras, conte !!! Tanto eu, como você e seu irmão iremos nos beneficiar.
Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta.

   Sócrates

A ESCOLA DOS BICHOS


 
   Rosana Rizzuti
 
Conta-se que vários bichos decidiram fundar uma escola. Para isso reuniram-se e começaram a escolher as disciplinas.
O Pássaro insistiu para que houvesse aulas de
vôo. O Esquilo achou que a subida perpendicular em árvores era fundamental. E o Coelho queria de qualquer jeito que a corrida fosse incluída.

E assim foi feito, incluíram tudo, mas...
cometeram um grande erro. Insistiram para que todos os bichos praticassem todos os cursos oferecidos.

O Coelho foi magnífico na corrida, ninguém corria como ele. Mas queriam ensiná-lo a voar.
Colocaram-no numa árvore e disseram: "Voa,
Coelho". Ele saltou lá de cima e "pluft"...
coitadinho! Quebrou as pernas. O Coelho não
aprendeu a voar e acabou sem poder correr também.

O Pássaro voava como nenhum outro, mas o
obrigaram a cavar buracos como uma topeira.
Quebrou o bico e as asas, e depois não conseguia voar tão bem, e nem mais cavar buracos.

SABE DE UMA COISA?
Todos nós somos diferentes uns dos outros e cada um tem uma ou mais qualidades próprias dadas por DEUS.
Não podemos exigir ou forçar para que as
outras pessoas sejam parecidas conosco ou tenham nossas qualidades.

Se assim agirmos, acabaremos fazendo com que elas sofram, e no final, elas poderão não ser o que queríamos que fossem e ainda pior, elas poderão não mais fazer o que faziam bem feito.
RESPEITAR AS DIFERENÇAS É AMAR AS PESSOAS COMO ELAS SÃO.

A morte da mãe de Pedro Malasarte

Orfão de pai, Malazarte viu morrer sua mãe, ficando muito triste. Mas, sendo ardiloso por natureza, do próprio cadáver quis aproveitar e ganhar mais dinheiro. Saiu com ele e escondeu-o nuns capins, perto de um pomar. O dono desse pomar era homem rico e violento, tendo comprado uma matilha de cachorros ferozes para a defesa das frutas. Ao anoitecer, Malazarte levou o corpo da velha e sacudiu-o por cima da cerca. Os cachorros acudiram imediatamente ladrando e mordendo. Nesse momento, Malazarte começou a gritar pelo dono do pomar, e quando este apareceu acusou-o de haver assassinado sua mãe, velhinha inofensiva que entrara no sítio para apanhar um graveto de lenha. Sabendo da ferocidade dos cachorros, Malazarte correra para impedir mas já chegara tarde. O dono do pomar, cheio de medo, pagou muito dinheiro e ainda encarregou-se de enterrar a velha com toda a decência.

domingo, 12 de agosto de 2012

O CRIADOR (africana)


Todos ou quase todos os povos africanos acreditam no Ser Supremo, criador de todas as coisas. Um deus supremo é referido num dicionário da língua banta datado de 1650, bem como na descrição da África Ocidental publicada por Bosman em 1705.
Os nomes dados ao Ser Supremo, como é natural, variam muito, devido à diversidade de línguas em toda a África. Nomes há, contudo, que são comuns em vastas áreas. Nas regiões ocidentais, o nome Mulungu é o mais ouvido, tendo sido adotado em cerca de trinta traduções da Bíblia. Na África Central, o nome Leza foi adotado por diversas etnias, e no ocidente dos trópicos até ao Congo encontram-se variações do nome Niambé.
Os povos da África Ocidental têm ainda muitos outros nomes para designar o Ser Supremo: Ngeno, Mavu, Amma, Olurun ou Chuquo.
Deus é o criador, e os mitos que se lhe referem tentam explicar as origens do mundo e da espécie humana. É um ser transcendente, que vive no céu, e para quem as pessoas naturalmente levantam a cabeça, reconhecendo a sua grandeza.
Não existem muitos templos dedicados ao Deus Criador. Isso é explicado pelos africanos idosos e experientes: Deus é demasiado grande para ser contido numa simples casa. O rei Salomão, em sua grande sabedoria já sabia disso: "Mas, de fato, habitaria Deus com os homens na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei." (Bíblia - 2 Cronicas 6.18).
O Deus Supremo é considerado como uma divindade pessoal, em geral benevolente, que se preocupa com as pessoas e não as espanta nem atemoriza. Mais ainda, é muitas vezes um poder residente, que sustenta e anima todas as coisas. Deus sabe tudo, vê tudo, e pode fazer o que quiser. Representa a justiça, recompensando os bons e punindo os maus.
Como criador, é responsável pelo aparecimento de todas as coisas e pelos costumes dos povos. Na sua qualidade de moldador, deu forma a todas as coisas, tal qual fazem as mulheres ao confeccionarem potes de barro. Colocou os objetos lado a lado, construiu tudo o que existe, como faz o homem que constrói a casa.
Como o Ser Supremo vive no céu, preocupa-se com a chuva, sem a qual os homens não podem viver. Quando a chuva começa a cair, a agradável frescura que daí resulta é descrita como "Foi Deus que amaciou o dia".
O arco-íris é freqüentemente referido como o "arco de Deus", que na ocasião atua como um caçador.
Alguns dos nomes dados a Deus nos rituais, provérbios e mitos africanos revelam o que o homem pensa sobre seu caráter e atributos. Primeiro que tudo, ele é o Criador, o escultor, o Doador do Sopro e da Alma, o Deus do Destino. O seu trabalho na natureza reconhece-se em títulos como Doador da Chuva e do Sol, O que Traz as Estações, O que Troveja, O Arco do Céu, O Acendedor de Fogos. A grandiosidade divina é indicada por nomes como: O Mais Antigo, O Iluminado, O que faz Curvar até os Reis, O que Dá e faz Apodrecer, O que Existe por Si, O que se Encontra em Todo Lado.
A providência divina também lhe confere nomes: Pai das Crianças, Grande Mãe, O maior dos Amigos, O Gentil, Deus da Misericórdia e do Conforto, A Providência que tudo Vigia como o Sol, Aquele em quem os Homens se Apóiam para Nunca Cair. Por fim, são-lhe dados nomes misteriosos e enigmáticos: O GRande Oceano Cujo Penteado é o Horizonte, O Grande Lago Contemporâneo de Todas as Coisas, O que Está para Além de Todos os Agradecimentos, O Inexplicável, O Furioso, A Grande Aranha.

(Texto adaptado do livro NENHUM REI É COMO
LENDA AFRICANA

O CELEIRO DO MUNDO (africana)


Quando Deus criou a Terra, serviu-se de um punhado de argila que amassou muito bem antes de a lançar para o espaço, onde se espalhou de norte a sul e de leste a oeste. Deus utilizou a mesma técnica para criar as estrelas, servindo-se desta vez, de bolinhas mais pequenas, que começaram a cintilar quando as projetou em todas as direções. Depois, aperfeiçoou a sua arte para formar o Sol e a Lua, enormes bolas de argila envolvidas numa espiral de cobre vermelho ou branco incandescente.
Terra era deserta e árida: Deus enviou-lhe a chuva para a tornar fértil. Em seguida, uniu-se ao novo planeta para gerar os seres vivos que o povoariam. O primeiro filho foi um chacal feroz e os seguintes foram gêmeos meio homem, meio serpentes.
Decepcionado, Deus retomou a técnica da olaria e moldou quatro homens e quatro mulheres de argila, os quais foram enviados para a Terra.
A missão dos oito primeiros seres humanos era simples: criar uma descendência numerosa e ensinar técnicas aos homens. A vida terrestre destes antepassados devia ter sido eterna, mas, passado algum tempo, Deus chamou-os para junto dele. Regressaram, pois, ao Céu, onde Deus os proibiu de se encontrarem, pois receava vê-los a discutir. A fim de poder matar a fome, deu a cada um deles sementes de oito plantas comestíveis, como o milho, o arroz e o feijão; a última planta, a digitária, era tão pequena e tão pouco prática de preparar que o primeiro dos oito antepassados jurou nunca comer.
Ora, acontece que todas as sementes se esgotaram, exceto uma: a minúscula digitária. O primeiro antepassado decidiu-se, então, a consumir esta última semente. Tendo rompido o juramento, tornou-se indigno de permanecer no Céu. Preparou, pois, o regresso à Terra.
O primeiro antepassado recordou-se então do estado miserável em que viviam os homens que abandonara à superfície da Terra: como formigas, habitavam galerias escavadas no chão; não possuíam nenhum utensílio, só conheciam o fogo e, além disso, teriam tido muita dificuldade em trabalhar, pois seus membros, como os dos antepassados, eram desprovidos de articulações e moles como serpentes. Antes de abandonar o Céu, reuniu, portanto, tudo o que considerou útil para os homens. Em primeiro lugar, um macho e uma fêmea de espécies desconhecidas na Terra: galinhas, galos, carneiros, cabras, gatos, cães e até mesmo ratos e ratazanas; entre os animais selvagens, escolheu os antílopes, as hienas, os gatos bravos, os macacos, os elefantes; pensou também nas aves, nos insetos e nos peixes. Ocupou-se igualmente do mundo vegetal, começando pelo baobá, e, naturalmente, não se esqueceu das oito sementes comestíveis que tão bem conhecia. Por fim, pretendia levar aos homens um fole, um martelo de madeira e uma bigorna, para os ensinar a fabricar instrumentos. Tudo isso era pesado e volumoso, mas ele teve uma idéia.
Com "terra de céu", construiu uma pirâmide truncada, cuja base era circular e o topo quadrado. No interior, ordenou oito compartimentos, nos quais guardou as sementes comestíveis. Nas paredes do edifício, escavou quatro escadas, nas quais dispôs os animais e as plantas. Em seguida, espetou no cimo da pirâmide uma flecha, à volta da qual enrolou um fio. Prendeu a outra extremidade do fia a uma segunda flecha, que enviou para a abóboda celeste. Faltava-lhe fazer o mais perigoso: subtrair aos ferreiros do céu um pedaço de sol, a fim de levar o fogo aos homens. Introduziu-se na oficina dos ferreiros e, utilizando uma haste encurvada, apoderou-se de algumas brasas e de um fragmento de ferro incandescente, que ocultou no fole. Por fim, lançou seu curioso edifício para o vazio, ao longo de um arco-íris: enquanto o fio se desenrolava como uma serpentina, o antepassado mantinha-se de pé, pronto para se defender dos perigos do espaço.
O ataque veio do céu. Furiosos, os dois ferreiros atiraram archotes acesos sobre o ladrão de fogo, obrigando-o a proteger-se com a pele de carneiro que envolvia o fole. Contudo, o edifício descia cada vez mais depressa, deixando no seu rastro um feixe de estrelas...
A aterragem foi violenta: o antepassado perdeu o equilíbrio, a bigorna e o martelo quebraram-lhe os membros frágeis, criando as articulações de que tanto carecia. Observou-se imediatamente a mesma transformação no corpo de todos os homens. O antepassado delimitou então, o primeiro campo, construiu a primeira aldeia e a primeira forja. Em seguida, ensinou os homens a cavar com uma enxada. Os outros sete antepassados juntaram-se-lhe, possuindo cada um deles o segredo de várias técnicas, como o fabrico de sapatos ou de instrumentos musicais.
(Mito africano de origem Dogon citado por Ragache em A Criação do Mundo - Mitos e lendas)

A CRIAÇÃO DO MUNDO


No princípio, o Deus único criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cântaros, a sua primeira invenção. O Sol é branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho, e a Lua, de forma idêntica tem anéis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Deus espremeu um pedaço de barro e, tal como fizera com as estrelas, arremessou-o para o espaço, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, à semelhança do corpo humano quando está deitado de cara para cima.
(Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmêli, escolhido pela tribo para contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado por Parrinder em África)

A CABAÇA UNIVERSAL (africana)

LENDAS SOBRE A CRIAÇÃO DO MUNDO

A cabaça é um fruto do gênero do melão ou da abóbora, cuja casca grossa o torna útil para os homens, depois que se lhe retirar a polpa macia. Serve como jarro de água ou, se for cheio com sementes secas, dá para chocalho musical. Em alguns templos colocam uma cabaça redonda cortada ao meio horizontalmente, para receber pequenas oferendas ou objetos simbólicos. O fruto é muitas vezes decorado com gravuras, em ambas as metades, com enorme variedade de desenhos bem como figuras de seres humanos, animais e répteis.
Em Abomei, O Universo é considerado como uma esfera semelhante à cabaça redonda, e o horizonte fica nos bordos da união das metades do fruto. É aí que céu e mar se juntam, num local hipotético inacessível ao homem. A terra é considerada plana, flutuando dentro da grande esfera, tal como uma cabaça pequena pode flutuar dentro da maior. Dentro da esfera estão as águas, não só no horizonte como por debaixo da Terra. Este aspecto particualr é explicado pelo fato de que se alguém fura o solo sempre descobre água, de modo que esta tem de rodear toda a terra. O Sol, a Lua e as estrelas movem-se na metade superior da cabaça.
Quando Deus criou todas as coisas, a sua primeira preocupação foi formar a Terra, fixando os limites das águas e unindo bem os bordos da cabaça. Uma cobra divina enrolou-se à volta da Terra, para agregar e manter firme, e levou Deus a vários lugares, estabelecendo a ordem e sustentando todas as coisas com os seus movimentos essenciais.

(Mito africano de origem Abomei antiga capital da República Popular de Benin, registrado por Parrinder em África)

A dispersão dos macacos (africana)

Antigamente, os macacos viviam num único grupo. Moravam num deserto onde não havia alimentos. Meteram-se, então, aos campos dos homens, para roubar comida; mas os donos guardaram-na. Vendo isso, os macacos combinaram o seguinte:
"Tomemos uma macaca, cortemos-lhe o rabo, transformemo-la, façamos dela uma mulher para que casem-se com ela, tenho um campo e nós aí comamos".
Agarraram numa macaca, cortaram-lhe o rabo e fizeram dela uma mulher. Um homem casou-se com ela e as pessoas abriram-lhe um campo muito grande. Depois do marido preparar a terra, homem e mulher quiseram semeá-lo, mas ela afirmou que podia fazer esse trabalho sozinha.
Quando a macaca foi semear, entoou esta canção:
Macacos, macacos,
Mueé, mueé
Vinde semear o milho
Eles ouviram-na. Semearam o milho e comeram o que sobrou. Mal se criaram as maçarocas, os macacos chegaram de novo para as comer, mas o marido afugentou-os com a espingarda.
Chegou o dia da colheita. Marido e mulher levaram o milho para casa. Os macacos ficaram furiosos e resolveram colar novamente o rabo à macaca. Levaram o rabo e iam cantando assim:
Andemos depressa
entreguemos o rabo à dona
Ao ouvirem esta canção, as pessoas ficaram surpreendidas. Os macacos chegaram a cantar e, encontrando a mulher deitada no chão, puseram-lhe o rabo, e logo ela se transformou em macaca, como dantes.
A aldeia estava cheia de macacos, mas, quando os homens pegaram nos arcos e nas espingardas, os macacos dispersaram, dois para um lado, três para o outro, e nunca mais se reuniram. Por isso há macacos em toda a parte.

Lenda da Girafa (Africana)








"Há muito, muito tempo, a girafa era um animal igual aos outros, com um pescoço de tamanho normal. Houve então uma terrível seca. Os animais comeram toda a erva que havia, até mesmo as ervas secas e duras, e andavam quilómetros para ter água para beber. Um dia, a Girafa encontrou o seu amigo Rinoceronte. Estava muito calor e ambos percorriam lentamente o caminho que levava ao bebedouro mais próximo e lamentavam-se.- Ah, meu amigo - disse a Girafa, - vê só... Tantos animais a escavar o chão à procura de comida... Está tudo seco, mas as acácias mantêm-se verdes.- Hum, hum - disse o Rinoceronte (que não era - e ainda não é - muito falador). - Seria tão bom - disse a Girafa - poder chegar aos ramos mais altos, às folhas tenras. Há muita comida mas não conseguimos lá chegar porque não conseguimos subir às árvores.O Rinoceronte olhou para cima e concordou, abanando a cabeça:- Talvez devêssemos ir falar como o Feiticeiro. Ele é sábio e poderoso.- Que bela ideia! - disse a Girafa. - Sabes onde fica a casa do Feiticeiro?O Rinoceronte acenou afirmativamente e os dois amigos dirigiram-se para a casa do Feiticeiro após matarem a sede. Depois de uma caminhada longa e cansativa, os dois chegaram a casa do Feiticeiro e explicaram-lhe ao que vinham.Depois de os ouvir, o Feiticeiro deu uma gargalhada e disse:- Isso é muito fácil. Voltem amanhã ao meio-dia e eu dar-vos-ei uma erva mágica. Ela fará com que os vossos pescoços e as vossas pernas cresçam. Assim, poderão comer as folhas tenras das acácias.No dia seguinte, só a Girafa chegou à cabana na hora marcada. O Rinoceronte, que não era lá muito esperto, encontrou um tufo de erva ainda verde e ficou tão contente que se esqueceu do compromisso. Cansado de esperar pelo Rinoceronte, o Feiticeiro deu a erva mágica à Girafa e desapareceu. A Girafa comeu sozinha uma dose preparada para dois. Sentiu imediatamente uma sensação estranha nas suas pernas e pescoço e viu que o chão estava a afastar-se rapidamente. “Que engraçado!” pensou a Girafa, fechando os olhos pois começava a sentir-se tonta. Passado algum tempo abriu lentamente os olhos. Como o mundo tinha mudado! As nuvens estavam mais perto e ela conseguia ver longe, muito longe. A Girafa olhou para as suas longas pernas, moveu o seu pescoço longo e gracioso e sorriu. À sua frente estava uma acácia bem verdinha... A Girafa deu dois passos e comeu as suas primeiras folhas.Após terminar a sua refeição, o Rinoceronte lembrou-se do compromisso e correu o mais depressa que pôde para a casa do Feiticeiro. Tarde demais! Quando lá chegou já a Girafa comia, regalada, as folhas da acácia. Quando o feiticeiro lhe disse que já não havia mais ervas mágicas, o Rinoceronte ficou furioso, pois pensou que tinha sido enganado e não que fora o seu enorme atraso que o tinha prejudicado. Tão furioso ficou que perseguiu o Feiticeiro pela savana fora. Diz-se que foi a partir desse dia que o Rinoceronte, zangado com as pessoas, as persegue sempre que vê uma perto de si."

A Lenda do Deus Osíris

Deus Osíris

Um dos fatos mais admiráveis sobre a civilização egípcia é o cuidado que dedicavam ao sepultamento de seus mortos. Na verdade as múmias egípcias são quase como um símbolo do tempo dos faraós, e a prática milenar do embalsamamento fez chegar aos nossos dias, junto com os registros nos templos e nas paredes das tumbas, as marcas da vida que levavam os egípcios do mundo antigo.
Qualquer sociedade humana tem nas suas práticas um reflexo do seu universo mental. Não seria diferente com os egípcios. Eles eram extremamente ligados ao rio Nilo e à agricultura que as cheias lhes permitiam fazer, vinculando muitos dos seus símbolos míticos a elementos aquáticos e a fenômenos que podiam ser observados no seu próprio "em torno".
Isso poderá ser mais bem notado ao longo da nossa narrativa. No cerne das práticas funerárias está embutida uma lenda, explicativa de um ideal que já esteve preso à realeza com exclusividade até a quarta dinastia egípcia. Posteriormente os ritos foram estendidos a membros da corte até serem difundidos por toda a população. Esta lenda é a do deus Osíris.
Osíris é, miticamente, a primeira de todas as múmias, dando assim justificativa à prática do embalsamamento. Ísis, sua esposa-irmã, opõe-se à catástrofe da sua morte com a prática da magia, o recurso da mumificação e a milagrosa concepção de Hórus. A lenda não nos chegou através de documentos egípcios, a não ser por fragmentos textuais, vinhetas e algumas cenas em tumbas, mas já relacionadas às exéquias de alguma personagem.
Quem nos revela Osíris é Plutarco, beócio da Queronéia, nascido por volta da primeira metade do século I d.C. Essa lenda, mais que qualquer outra, exerceu uma enorme influência no espírito egípcio.
Fica claro para os estudiosos do Egito, a antiguidade do culto a Osíris que tomou pujança no Médio Império quando foi explicitamente refletido nas práticas funerárias, independentemente do culto ao próprio deus em templos específicos.

Mas vamos à lenda!

Ré ou Rá, o deus-sol, descobrindo que Nut, a senhora dos céus, estivera em companhia de Geb, a terra, lança sobre ela um castigo pelo qual a deusa não poderia procriar em nenhum mês ou ano. O deus Thot, também apaixonado por Nut, em um jogo com a lua ganhou-lhe a sétima parte de cada uma de suas luminárias.
Juntando essas partes, que formavam ao todo cinco dias, acrescentou-as aos trezentos e sessenta dias do ano. Dessa forma Nut pode gerar filhos. No primeiro dia nasceu Osíris; no segundo Hórus (o velho); no terceiro Seth; no quarto Ísis; e no quinto dia, Néftis. Seth casou-se com Néftis e Osíris com Ísis.
Osíris dedicou-se a civilizar seus súditos, desviando-os do seu antigo estilo de vida nômade, indigente e bárbaro.
Ensinou-os a cultivar a terra e a aproveitar da melhor maneira os seus frutos; ensinou-os a trabalhar com os metais e a fazer armas para defenderem-se das feras; convenceu-os a viver em comunidade e a fundar cidades; deu-lhes um conjunto de leis para que por elas o povo regulasse sua conduta e instruiu-os na reverência e adoração aos deuses.
Ísis, a irmã-esposa de Osíris, curava as doenças dos homens e expulsava os espíritos malignos com magia; fundou a família; ensinou os homens a fazer pão e às mulheres todas as artes femininas. Osíris decidiu levar esses conhecimentos ao resto do mundo e confiou a regência do seu trono a Ísis. Durante a ausência de Osíris, seu irmão Seth tentou apossar-se do trono, mas foi frustrado em suas intenções por Ísis.
Osíris regressou de sua viagem, concluída com êxito, e Seth armou nova trama: tirou as medidas do corpo de irmão, em segredo, e mandou fazer uma bela arca, adornada e realçada com pedras. Deu uma festa em comemoração ao retorno de Osíris e propôs que presentearia com a arca a quem nela entrasse e a ocupasse com o próprio corpo. Todos os convidados entraram na arca mas ela sempre resultava grande. Chegou a vez de Osíris cujo corpo, de grande estatura, adaptou-se perfeitamente à arca. Seth e seus cúmplices fecharam a arca lacrando-a e lançando-a no rio Nilo.
Deus Osíris

"O dia do assassinato de Osíris foi o 17º do mês de Háthor (novembro) quando o sol estava na constelação de escorpião. De acordo com alguns, Osíris estava no 28º ano de seu reinado e, de acordo com outros, no 28º ano de idade.
Quando a notícia do assassinato alcançou Ísis, que estava na cidade de Coptos, ela imediatamente cortou uma das mechas dos seus cabelos, colocou roupa de luto e vagou pelo país em estado perturbado procurando a caixa que continha o corpo de seu marido".(1)
Sete escorpiões escoltavam a deusa que chegou à cidade de Pa-Sin em trapos e esgotada. Daquele jeito, e com tão ameaçadora comitiva, não encontrou quem a hospedasse. Uma mulher fechou-lhe a porta no rosto. Os escorpiões, vingando o insulto à deusa, injetaram seu veneno em sua dirigente Tefen que entrou na casa da mulher, encontrou o seu filho e picou-o.

O veneno era tão poderoso que a casa foi envolvida em chamas. Uma outra mulher, de nome Taha, apiedou-se da deusa e a acolheu. Aquela outra, de nome Usa, não encontrou água para apagar o incêndio e correu em desespero com o filho nos braços.
Deusa Ísis

Ninguém a socorreu, mas a deusa Ísis acabou por ter pena dela e fez com que uma chuva apagasse o incêndio. Ordenou, também, que o veneno saísse da criança. Usa, reconhecendo a deusa, implorou-lhe perdão e ofereceu presentes a Ísis.
Ísis continuou a sua busca e soube, por algumas crianças que brincavam à margem do rio, que a caixa procurada havia passado por ali em direção ao mar.

"Nesse meio tempo as ondas carregaram a caixa para a costa da Síria e a lançaram em Biblos, e tão rápido repousou sobre a terra, uma grande árvore (Erica) brotou de repente, desenvolvendo-se toda em torno da caixa, cercando-a por todos os lados".
O Nome do rei de Biblos era Melkart e o de sua esposa Astarte (Ishtar, Ashtoreth).
Moedas representando Ishtar - Deusa AstarteMelkart viu a árvore de tamanho descomunal e mandou cortá-la para fazer com ela um pilar para o seu palácio. Ísis chegou a Biblos e soube da árvore que cresceu da noite para o dia e do destino que teve. Instalou-se à beira da fonte onde as criadas da rainha apanhavam água. Começou a penteá-las transferindo-lhes parte do perfume que emanava do seu corpo.
A rainha notou a diferença em suas criadas e isso despertou o seu interesse em conhecer quem as estava arrumando e educando. Ísis foi levada à sua presença, mas não se revelou. A rainha a fez ama do príncipe, a quem Ísis amamentou com o dedo em lugar do seio. Punha-o toda a noite no fogo para que este lhe consumisse a parte mortal. Transformava-se em uma andorinha e voava em torno da coluna lastimando seu próprio destino.
Uma noite a rainha entrou no quarto e viu o filho envolto em chamas e guardado por sete escorpiões. Gritou e o rei e os guardas a acudiram, mas ficaram paralisados diante da cena que presenciaram. Surgiu Ísis que, com um gesto, apagou as chamas, revelando-se para os reis. Contando a sua história explicou que, grata pela hospitalidade, decidira tornar o príncipe imortal, mas a mágica fora interrompida e não faria mais efeito.
A rainha se entristeceu, mas o rei, com a honra de acolher uma deusa, deu-lhe a coluna de madeira de onde Ísis retirou a arca que continha o corpo de Osíris. Depois envolveu a coluna em linho, derramou sobre ela óleos perfumados e a devolveu aos reis como lembrança e relíquia poderosa. A deusa voltou ao Egito escoltada por outros dois filhos do rei de Biblos.
Em determinado ponto da viagem ordenou que a caravana parasse e abriu a caixa com o corpo do marido. Transtornada pela dor, gritou de forma tão espantosa que um dos filhos do rei ficou louco; o outro, que olhou a deusa em seu desespero, caiu morto de medo. Ísis ficou só e tentou todas as fórmulas mágicas para trazer Osíris de volta à vida. Transformou-se em um falcão e agitou as suas asas sobre ele para restituir-lhe o sopro de vida. Num breve momento em que seu intento foi conseguido, Ísis foi fecundada. Continuou levando o corpo de Osíris para o Egito.
Quando chegou ao seu país, escondeu a arca nos pântanos.
Deus Seth - esquerdaEnquanto caçava à luz da lua, Seth encontrou a arca, abriu-a e viu os restos do irmão. Furioso, despedaçou o corpo em catorze pedaços e os espalhou pelo Egito. Isso fez com que Ísis recomeçasse a sua busca, desta vez para reconstituir o corpo do marido. Ajudada por Anúbis, que tomou a forma de um chacal negro para farejar os restos de Osíris, Ísis só não encontrou o falo do deus que, atirado ao Nilo, fora devorado por um peixe. Em cada local que Ísis descobriu uma parte do corpo de Osíris, foi levantada uma capela.
Recomposto o corpo de Osíris, Ísis chamou sua irmã Néftis e os deuses Toth e Anúbis. Todos juntos tentaram restituir a vida a Osíris. Anúbis embalsamou o corpo do deus e surgiu assim a primeira múmia, envolta em linho e em peles de animais, recoberta de amuletos. Nas paredes do sepulcro de Osíris foram gravadas fórmulas rituais e junto ao sarcófago foi colocada uma estátua semelhante ao deus que ressuscitou, mas não pode mais reinar sobre a terra e tornou-se "rei do lugar que fica além do horizonte ocidental".
Osíris transformou esse lugar, de triste em um local fértil e rico de colheitas.
Depois do sepultamento Ísis voltou a se esconder nos pântanos. Quando nasceu o seu filho Hórus, a mãe deu-lhe amor e invocou sobre ele a proteção de todos os deuses.
Ensinou-lhe a magia e o educou em memória do pai.
Hórus cresceu como o sol nascente. Ele próprio era um grande falcão que cortava os céus. Quando ficou maior Osíris voltou à terra para fazer dele um guerreiro. Hórus reuniu todos os fiéis a Osíris e partiu sobre Seth para vingar a morte do pai, mutilando-o e esterelizando-o. Seth, por sua vez, transformou-se num grande porco negro e devorou o olho esquerdo de Hórus e, assim, a lua parou de iluminar.
Ísis suplicou a seu filho que pusesse fim ao massacre, mas Hórus, num ímpeto de ódio, decepou a cabeça da mãe.
Thoth

Thot curou-a colocando uma cabeça de vaca em lugar da sua. A batalha recomeçou sem vencedores ou vencidos.
Thot curou Seth, mas impôs que este restituísse o olho de Hórus. A lua, então, voltou a brilhar. Os deuses levaram a questão a julgamento e o processo durou oitenta anos. Seth acusou Hórus de ilegitimidade.
Hórus acusou Seth pelo assassinato do pai. Por fim os deuses decidiram que Hórus ficaria como rei do Baixo Egito e Seth como rei do Alto Egito.


1 - BUDGE, E. A. T. Wallis. Osiris and the Egyptian ressurrection. New York: Dover Publications Inc., 2 ed., 1973, V. 1, p. 4.
2 - Ibidem, pp. 4-5.

Lenda da Atlântida




 
Conta-se que houve em tempos um continente imenso no meio do oceano Atlântico chamado Atlântida. Era um lugar magnífico: tinha belíssimas paisagens, clima suave, grandes bosques, árvores gigantescas, planícies muito férteis, que às vezes até davam duas ou mais colheitas por ano, e animais mansos, cheios de saúde e força. Os seus habitantes eram os Atlantes, que tinham uma enorme civilização, mesmo quase perfeita e muito rica: os palácios e templos eram todos cobertos com ouro e outros metais preciosos como o marfim, a prata e o estanho. Havia jardins, ginásios, estádios... todos eles ricamente decorados, e ainda portos de grandes dimensões e muito concorridos.

            As suas jóias eram feitas com um metal mais valioso que o ouro e que só eles conheciam, o oricalco. Houve uma época em que o rei da Atlântida dominou várias ilhas em redor, uma boa parte da Europa e parte do Norte de África. Só não conquistou mais porque foi derrotado pelos gregos de Atenas.

            Os deuses, vendo tanta riqueza e beleza, ficaram cheios de inveja e, por isso, desencadearam um terramoto tão violento que afundou o continente numa só noite. Mas parecia que esta terra era mesmo mágica, pois ela não se afundou por completo: os cumes das montanhas mais altas ficaram à tona da água formando nove ilhas, tão belas quanto a terra submersa, o arquipélago dos Açores.

            Alguns Atlantes sobreviveram à catástrofe fugindo a tempo e foram para todas as direcções, deixando descendentes pelos quatro cantos do mundo. São todos muito belos e inteligentes e, embora ignorem a sua origem, sentem um desejo inexplicável de voltar à sua pátria.

            Há quem diga que antes da Atlântida ir ao fundo, tinham descoberto o segredo da juventude eterna, mas depois do cataclismo, os que sobreviveram esqueceram-se ou não o sabiam, e esse conhecimento ficou lá bem no fundo do mar.

A lenda da fundação de Tenochtitlán: (Asteca)


Representação artística da cidade de Tenochtitlán.
Conta a lenda que os astecas receberam uma revelação do deus Huitzilopochtli, que dizia que a cidade deveria ser construída no local onde o povo encontrasse uma águia devorando uma serpente em cima de um cacto. Assim, os astecas iniciaram sua viagem para o sul – pois seus primeiros assentamentos encontrados por arqueólogos estão localizados mais ao norte do território mexicano – até vizualizarem esta cena descrita por Huitzilopochtli às margens do lago Texcoco.
Os primeiros assentamentos na região de Tenochtitlán são do século XII, pois arqueólogos já encontraram vestígios que foram datados desta época. A cidade teve seu apogeu no século XV, antes da chegada dos espanhóis. Na verdade, os historiadores e arqueólogos reconhecem diversas correntes migratórias de povos do norte do México até a região, e com elas, várias vilas, plantações, construções religiosas e administrativas foram, gradativamente, tomando espaço até a cidade atingir toda sua grandeza.

O Sol E a Lua (Asteca)

A lenda conta que o primeiro sol, o sol da água,  foi levado pela correnteza da inundação sofrida pela água. Todos os que nesse momento viviam no mundo, se tornaram em peixes. O segundo sol, foi devorado pelos tigres famintos. O terceiro sol, foi arrastado por uma grande chuva de fogo que queimou muitas pessoas. No quanto sol, o sol do vento foi apagada por uma terrível tempestade ocorrida pelo vento. As pessoas se transformaram em macacos e se espalharam pelos montes. Os deuses, pensativos por tudo que aconteceu, fizeram uma reunião em Teotihuacan. E decidiram sobre quem que haveria de se encarregar para buscar a aurora..  Então, o Senhor dos Caracóis, que era famoso pela sua força e beleza, deu um passo para frente: -"Eu serei o sol"- dijsse"Quem mais?"- Silêncio...Todos olharam para o disforme Pequeno Deus Sifilítico, que era o mais feio e infeliz de entre todos os deuses, e decidiram: -"Tu". O Senhor dos Caracóis e o Pequeno Deus Sifilítico se retiraram pelas colinas que são conhecidas como as Prirâmides do sol e da Lua, e na solidão, meditaram. logo os outros deuses juntaram lenha, fizeram uma enorme fogueira e os chamram. O Pequeno Deus Sifilítico, então tomou impulso e se jogou para as chamas. En seguida resurgió, incandescente, en lo alto del cielo. O Senhor dos Caracóis olhou a fogueira com semblante franzido, avançou, duvidou e se deteve. Deu um para de voltas, e no final, como não se decidiu, foi empurrado. Com muito atraso, subiu para o céu. Os deuses, enfurecidos, o bofetearam; seu rosto foi golpeado com um coelho, até que se apagaram seu brilho. Desta forma, o vaidoso senhor dos Caracóis se transformou na lua. As manchas da lua evidenciaram as cicatrizes daquele extranho castigo. Mas o sol resplandescente não se movia. O gavião de   obsidiana voou prontamente em direção ao Pequeno Deus  Sifilítico:-"Por quê não andas? "E o respondeu o infeliz :-"Porque quero o sangue e o reino". Este quinto sol, o sol do movimento, sol del movimiento, deu à luz os toltecas e dá à luz aos astecas. Tem garras e se alimenta de sangue e corações humanos.

A Gruta dos Amores



Itanhantã era um belo e forte índio tamoio, que provia o seu povo com a caça e a pesca que trazia para ele. Itanhantã remava, todos os dias, a sua canoa rumo à ilha de Paquetá. Na ilha caçava os mais perigosos animais, que tombavam diante das suas flechas certeiras.
Em Paquetá vivia Poranga, uma bela índia, que no esplendor dos seus quinze anos, encheu-se de amor pelo viril caçador. Apaixonada, a índia ajudava o amado, indo buscar-lhe a caça abatida. Olhava-o com ternura, falava-lhe com doçura, mas o valente caçador não lhe via os sentimentos, não se comovia com o amor e dedicação da índia.
Todos os dias, depois de caçar intensamente, Itanhantã repousava o corpo na sombra de uma gruta, adormecendo, até recuperar as forças. A pobre índia apaixonada, velava do alto da pedra que formava a gruta, o sono repousante do amado. Chorava as mais tristes lágrimas do amor não correspondido, que corriam pela pedra. Enquanto chorava, ou esperava pela vinda do amado, Poranga entoava o mais belo canto de amor, que ecoava por toda Paquetá.
O tempo passou, as lágrimas e o canto da bela índia não enterneceram o coração de Itanhantã, que continuava a caçar e repousar em Paquetá. Tantas foram as lágrimas de Poranga, que elas abriram a pedra da gruta, transpassando-a, vindo um dia, a cair sobre o rosto do tamoio. Assustado com aquela água que lhe molhou os olhos, Itanhantã fugiu da gruta, vindo a encontrar Poranga no caminho. Diante dos olhos lavados pela água da gruta, Itanhantã descobriu no rosto da índia a mais perene beleza, e no seu olhar, o amor eterno. Apaixonado, Itanhantã tomou Poranga nos seus braços e a beijou. Depois levou a índia na sua canoa, tomando-a como esposa, sendo felizes para sempre.
As lágrimas de Poranga transformaram-se na fonte da água que existe na Gruta dos Amores, em Paquetá. Até os dias de hoje, em Paquetá, quem beber da água da Gruta dos Amores ao lado da pessoa amada, terá o seu amor para sempre.

Cobra Norato



A bela e fogosa cabocla, escondera por nove meses, o resultado do mau passo que dera durante as festas de Santo Antônio, ao pular a fogueira ao lado de um caboclo viril. Nove meses depois, acompanhada pela mãe índia, indo beber água no rio Amazonas, a cabocla sentiu fortes dores no ventre. Minutos depois, deu à luz a um casal de gêmeos. Tão logo os gêmeos choraram, a cabocla viu a prole transformar-se em duas cobras. Era o preço do seu pecado, gerar dois filhos encantados.
Arrependida do mau passo, a cabocla entregou os filhos à velha índia, que por sua vez, os foi entregar ao pajé, para que os matasse. O pajé sabia do encantamento dos filhos da cabocla. Não os matou, jogou as duas cobras nas águas do Amazonas, para que o grande rio os criasse.
No rio, Honorato e Maria Canina foram criados. Nas noites de luar pleno, os irmãos deixavam a pele de cobra e percorriam as festas dos homens, transformados ele em um belo homem, ela numa mulher feia e má. Honorato era de boa índole, Maria Caninana lançava a discórdia e o veneno aos homens. De tão má, um dia foi morta por pescadores, fazendo da sua pele de cobra belos cintos.
Nos bailes, Honorato roubava o coração das mulheres, tamanha a sua formosura e carisma de sedutor. Antes de o sol raiar, voltava para o rio, transformando-se na tal terrível cobra Norato.
Ao ver o sofrimento de Honorato, um dia o pajé revelou-lhe o segredo do seu desencantamento: somente um homem de coragem arrojada poderia fazê-lo, lançando gotas de leite na boca da cobra, dando-lhe, a seguir, um corte na cauda, para que o sangue amaldiçoado escorresse e o encantamento fosse desfeito.
Diante de tão horrendo e gigantesco monstro, não havia um homem à beira do Amazonas que ousasse desencantar Honorato.
Uma noite, o jovem encantando falou da sua desgraça a um valente soldado. Enternecido pela triste sina do jovem, o soldado prometeu livrar-lhe para sempre da maldição. Esteve com ele até o sol nascer, quando o viu transformar-se no mais feio e terrível monstro. O soldado encheu-se de coragem, abriu a boca da imensa cobra, que, já pronta para devorá-lo, sentiu as gotas de leite por ele lançadas em sua garganta. Antes que o animal cuspisse o leite, o soldado, empunhado de um sabre, abriu-lhe um corte na cauda. Tão logo o sangue molhou as águas do rio Amazonas, da pele fria da cobra, surgiu o belo e jovial Honorato.
Findava-se a Cobra Norato, que tanto causara medo e terror aos índios e caboclos que viviam às margens do grande rio Amazonas. Seguiu Honorato, belo e encantador, eternamente grato à coragem do soldado que o libertara. Desencantando para sempre.

A Criação do Mundo



Os índios Carajás, no princípio do mundo, viviam dentro do furo das pedras. Não conheciam a Terra. Eram felizes e tinham a eternidade, vivendo até avançada velhice, só morrendo quando ficavam cansados de viver.
Um dia, os Carajás decidiram abandonar o furo das pedras, na esperança de descobrir os mistérios da Terra. Apenas um deles, por ser muito gordo, não conseguiu passar pelo furo da pedra, ficando nele entalado.
Na Terra, que trazia uma escuridão sem fim, os índios percorreram todos os lugares. Descobriram frutos e comidas. Compadecidos do companheiro que ficara entalado no furo da pedra, levaram-lhe os mais saborosos frutos e um galho seco. Ao ver aquele galho seco, o índio entalado observou:
O lugar por onde vocês andam não é bom. As coisas envelhecem e morrem. Veja este galho, envelheceu. Não quero ir para um lugar onde tudo envelhece. Vou voltar. E vocês deviam fazer o mesmo!
E robusto carajá voltou para dentro da pedra. Os outros continuaram a percorrer a Terra, que se encontrava nas trevas. Um menino carajá, junto com a amada, percorria a Terra em busca de alimentos. Como não havia luz, a amada sangrou as mãos nos espinhos, quando colhia frutos. O menino, na escuridão, comeu mandioca brava. Envenenado pela raiz, o menino carajá deitou-se de costas, a passar mal. Vários urubus começaram a andar em volta do seu corpo. Um dos urubus disse:
“Ele não está morto, ainda move o corpo.”
Outro urubu replicou:
Não, ele está morto.”
Todos os urubus opinavam, uns achavam que o menino estava morto, outros achavam que não. Para que a dúvida fosse esclarecida, foi chamado o urubu-rei, com o seu bico vermelho e penugem rala na cabeça. Considerado o mais sábio dos urubus, a ave imponente declarou:
Ele está morto.”
E foi pousar na barriga do menino. Inesperadamente, o menino carajá, que se fingia de morto, pegou o urubu-rei pelas pernas e o prendeu nas mãos. A ave esperneou, debateu-se, mas não se libertou das mãos do menino.
Quero os mais belos enfeites.” Disse o menino ao urubu-rei.
A ave, para ser libertada, trouxe as estrelas no céu como enfeites aos olhos do menino. As estrelas eram belas, mas o mundo continuava escuro.
Quero outro enfeite.
O urubu-rei trouxe a lua. E a Terra continuava escura.
Ainda é noite. Quero outro enfeite, este também não serve.”
Então o urubu-rei trouxe o sol. E o mundo ficou cheio de luz.
O urubu-rei ensinou ao pequeno índio a utilidade de todas as coisas do mundo. Feliz, o menino soltou a sábia ave. Só então o carajá se lembrou de perguntar ao urubu-rei o segredo da juventude eterna. No alto do céu, a ave contou-lhe aquele segredo, mas voava tão alto, que todos ouviram a resposta, as árvores, os animais, menos o menino. E por não ter ouvido o urubu-rei, todos os homens envelhecem e morrem.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cobra grande



É uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles, como Cobras, se criaram. Honorato era Bom, mas sua irmã era muito perversa. Prejudicava os outros animais e também às pessoas.
Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra.
Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra, e fazer um ferimento na cabeça até sair sangue. Ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro.
Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato da maldição. Ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra com sua família.

Origem: Mito da região Norte do Brasil, Pará e Amazonas.

A Iara



Os cronistas dos séculos XVI e XVII registraram essa história. No princípio, o personagem era masculino e chamava-se Ipupiara, homem peixe que devorava pescadores e os levava para o fundo do rio. No século XVIII, Ipupiara vira a sedutora sereia Uiara ou Iara. Todo pescador brasileiro, de água doce ou salgada, conta histórias de moços que cederam aos encantos da bela Uiara e terminaram afogados de paixão. Ela deixa sua casa no fundo das águas no fim da tarde. Surge magnífica à flor das águas: metade mulher, metade peixe, cabelos longos enfeitados de flores vermelhas. Por vezes, ela assume a forma humana e sai em busca de vítimas.
Quando a Mãe das águas canta, hipnotiza os pescadores. Um deles foi o índio Tapuia. Certa vez, pescando, Ele viu a deusa, linda, surgir das águas. Resistiu. Não saiu da canoa, remou rápido até a margem e foi se esconder na aldeia. Mas enfeitiçado pelos olhos e ouvidos não conseguia esquecer a voz de Uiara. Numa tarde, quase morto de saudade, fugiu da aldeia e remou na sua canoa rio abaixo.
Uiara já o esperava cantando a música das núpcias. Tapuia se jogou no rio e sumiu num mergulho, carregado pelas mãos da noiva. Uns dizem que naquela noite houve festa no chão das águas e que foram felizes para sempre. Outros dizem que na semana seguinte a insaciável Uiara voltou para levar outra vítima.

Origem: Européia com versões dos Indígenas, da Amazônia.
 

Mula sem cabeça



Nos pequenos povoados ou cidades, onde existam casas rodeando uma igreja, em noites escuras, pode haver aparições da Mula-Sem-Cabeça. Também se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia-noite, ela aparece. Dizem que é uma mulher que namorou um padre e foi amaldiçoada. Toda passagem de quinta para sexta feira ela vai numa encruzilhada e ali se transforma na besta.
Então, ela vai percorrer sete povoados, ao longo daquela noite, e se encontrar alguém chupa seus olhos, unhas e dedos. Apesar do nome, Mula-Sem-Cabeça, na verdade, de acordo com quem já a viu, ela aparece como um animal inteiro, forte, lançando fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro.
Nas noites que ela sai, ouve-se seu galope, acompanhado de longos relinchos. Às vezes, parece chorar como se fosse uma pessoa. Ao ver a Mula,deve-se deitar de bruços no chão e esconder Unhas e Dentes para não ser atacado.
Se alguém, com muita coragem, tirar os freios de sua boca, o encanto será desfeito e a Mula-Sem-Cabeça, voltará a ser gente, ficando livre da maldição que a castiga, para sempre
Nomes comuns: Burrinha do Padre, Burrinha, Mula Preta, Cavalo-sem-cabeça, Padre-sem-cabeça, Malora (México),

Origem Provável: É um mito que já existia no Brasil colônia. Apesar de ser comum em todo Brasil, variando um pouco entre as regiões, é um mito muito forte entre Goiás e Mato Grosso. Mesmo assim não é exclusivo do Brasil, existindo versões muito semelhantes em alguns países Hispânicos.

Conforme a região, a forma de quebrar o encanto da Mula, pode variar. Há casos onde para evitar que sua amante pegue a maldição, o padre deve excomungá-la antes de celebrar a missa. Também, basta um leve ferimento feito com alfinete ou outro objeto, o importante é que saia sangue, para que o encanto se quebre. Assim, a Mula se transforma outra vez em mulher e aparece completamente nua. Em Santa Catarina, para saber se uma mulher é amante do Padre, lança-se ao fogo um ovo enrolado em fita com o nome dela, e se o ovo cozer e a fita não queimar, ela é.

É importante notar que também, algumas vezes, o próprio Padre é que é amaldiçoado. Nesse caso ele vira um Padre-sem-Cabeça, e sai assustando as pessoas, ora a pé, ora montado em um cavalo do outro mundo. Há uma lenda Norte americana, O Cavaleiro sem Cabeça, que lembra muito esta variação.

Algumas vezes a Mula, pode ser um animal negro com a marca de uma cruz branca gravada no pelo. Pode ou não ter cabeça, mas o que se sabe de concreto é que a Mula, é mesmo uma amante de Padre.

 

Boi Tatá



É um Monstro com olhos de fogo, enormes, de dia é quase cego, à noite vê tudo. Diz a lenda que o Boitatá era uma espécie de cobra e foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram.
Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça e persegue os viajantes noturnos. Às vezes ele é visto como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. No Nordeste do Brasil é chamado de "Cumadre Fulôzinha". Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.
Dizem ainda que ele é o espírito de gente ruim ou almas penadas, e por onde passa, vai tocando fogo nos campos. Outros dizem que ele protege as matas contra incêndios.
A ciência diz que existe um fenômeno chamado Fogo-fátuo, que são os gases inflamáveis que emanam dos pântanos, sepulturas e carcaças de grandes animais mortos, e que visto de longe parecem grandes tochas em movimento.

Nomes comuns: No Sul; Baitatá, Batatá, Bitatá (São Paulo). No Nordeste; Batatão e Biatatá (Bahia). Entre os índios; Mbaê-Tata.

Origem Provável: É de origem Indígena. Em 1560, o Padre Anchieta já relatava a presença desse mito. Dizia que entre os índios era a mais temível assombração. Já os negros africanos, também trouxeram o mito de um ser que habitava as águas profundas, e que saía a noite para caçar, seu nome era Biatatá.

É um mito que sofre grandes modificações conforme a região. Em algumas regiões por exemplo, ele é uma espécie de gênio protetor das florestas contra as queimadas. Já em outras, ele é causador dos incêndios na mata. A versão do dilúvio teve origem no Rio Grande o Sul.

Uma versão conta que seus olhos cresceram para melhor se adaptar à escuridão da caverna onde ficou preso após o dilúvio, outra versão, conta que ele, procura restos de animais mortos e come apenas seus olhos, absorvendo a luz e o volume dos mesmos, razão pela qual tem os olhos tão grandes e incandescentes.

Caipora


É um Mito do Brasil que os índios já conheciam desde a época do descobrimento. Índios e Jesuítas o chamavam de Caiçara, o protetor da caça e das matas.
É um anão de Cabelos Vermelhos com Pelo e Dentes verdes. Como protetor das Árvores e dos Animais, costuma punir o os agressores da Natureza e o caçador que mate por prazer. É muito poderoso e forte.
Seus pés voltados para trás serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora. Para os Índios Guaranis ele é o Demônio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.
Uma carta do Padre Anchieta datada de 1560, dizia: "Aqui há certos demônios, a que os índios chamam Curupira, que os atacam muitas vezes no mato, dando-lhes açoites e ferindo-os bastante". Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores.
De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa deve levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, no caso de cruzar com Ele.
 
Nomes comuns: Caipora, Curupira, Pai do Mato, Mãe do Mato, Caiçara, Caapora, Anhanga, etc.

Origem Provável: É oriundo da Mitologia Tupi, e os primeiros relatos são da Região Sudeste, datando da época do descobrimento, depois tornou-se comum em todo País, sendo junto com o Saci, os campeões de popularidade. Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Existem entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das américas Latina e Central. Em El Salvador, El Cipitío, é um espiríto tanto da floresta quanto urbano, que também tem as mesmos atibutos do Caipora. Ou seja pés invertidos, capacidade de desorientar as pessoas, etc. Mas, este El Cipitío, gosta mesmo é de seduzir as mulheres.
Conforme a região, ele pode ser uma mulher de uma perna só que anda pulando, ou uma criança de um pé só, redondo, ou um homem gigante montado num porco do mato, e seguido por um cachorro chamado Papa-mel.

Também, dizem que ele tem o poder de ressuscitar animais mortos e que ele é o pai do moleque Saci Pererê.
Há uma versão que diz que o Caipora, como castigo, transforma os filhos e mulher do caçador mau, em caça, para que este os mate sem saber.