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sexta-feira, 25 de maio de 2012

FADA QUE TINHA IDÉIAS




Clara Luz era uma fada, de seus dez anos de idade, mais ou menos, que morava lá no céu, com a senhora fada sua mãe. Viveriam muito bem se não fosse uma coisa:

Clara luz não queria aprender a fazer mágicas pelo livro das fadas.

Clara Luz queria inventar as suas próprias mágicas.

− Mas minha filha, todas as fadas sempre aprenderam por esse livro− dizia a Fada Mãe. Por que só você não quer aprender?

− Não é preguiça, não, mamãe. É que não gosto de mundo parado.

− Mundo parado?

− É que quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Nunca reparou?

− Não...

− Pois repare só.

A Fada Mão ia cuidar do serviço, muito preocupada. Ela morria de medo do dia em que a Rainha das Fadas descobrisse que Clara Luz nunca saíra da Lição Um do Livro.

A rainha era uma velha fada muito rabugenta. Felizmente vivia num palácio do outro lado do céu. Clara Luz e sua mãe moravam numa rua toda feita de estrelas, chamada Via Láctea. A casinha delas era de prata e tinha um jardim todo de flores prateadas.

Minha filha faça uma forcinha, passe ao menos para a Lição Dois! − pedia a Fada Mãe, aflita.

− Não vale a pena, mamãe. A Lição Um é tão enjoada, que a dois tem que ser duas vezes pior...

− Mas enjoada por que se ensina a fabricar tapete mágico...

− Já pensou que maravilha saber fazer um tapete mágico?

− Não acho não. Tudo quanto é fada só pensa em tapete mágico. Ninguém tem uma idéia nova!

Clara Luz estava sempre fazendo experiências com sua varinha mágica. Já de manhã cedo, reparava no bule de prata, olhava para ele e tinha uma idéia:

− Tem bico. Dá um bom passarinho.

E transformava o bule em passarinho, mas, o passarinho saía com três asas, duas novas e a do bule que tinha sobrado.

A Fada Mãe entrava na sala e levava um susto danado

− Que bicho esquisito é esse?

− É o bule, mamãe, que eu transformei em passarinho.

− Clara Luz! E agora? Onde vou coar o pó da meia noite para fazer o nosso café? E que idéia é essa de fazer passarinhocom três asas? Ao menos ponha só duas asas nele!

− Mas mamãe, ele gosta de ter três asas!

O passarinho furioso entrava na conversa:

− Não gosto não senhora! Faça o favor de me consertar já!

Clara Luz não acertava e quem acabava consertando era a Fada Mãe e o passarinho agradecia muito:

− Se não fosse a senhora eu não sei como seria! Essa sua filha é muito intrometida. E saía pela janela resmungando ainda.

− Veja só inventar que eu gosto de ter três asas!

Mas essas eram as idéias menores de Clara Luz. Havia outras bem maiores.

A maior amiga de Clara Luz era Vermelhinha, uma estrela cadente e por ser cadente Vermelhinha podia ir onde queria no céu. Ela e Clara Luz corriam sem parar brincando de esconder atrás das nuvens.

− Minha filha, porque você não arranja uma amiga mais calma, heim? − perguntava a Fada Mãe, às vezes muito tonta com as travessuras de Clara Luz e Vermelhinha.

Mas perguntava por perguntar, pois gostava muito de vermelhinha. Tanto que, no aniversário da estrela resolveu dar uma festa.

Vermelhinha ia fazer nove milhões de anos, o que para uma estrela é bem pouco.

Clara Luz, que adorava festas, estava felicíssima, ajudando a mãe muito direitinho que justamente na véspera da festa teve que sair para desencantar uma princesa.

− Não faz mal − disse a Fada Mãe − Está tudo quase pronto. Você pode ir fazendo a massa dos bolinhos de luz, enquanto eu vou ver a tal princesa. Acho que já sabe faze-los sozinha.

− Sei fazer muito bem.

− Ótimo! Amanhã cedo faço o bolo de aniversário. É só o que está faltando.

E a Fada Mãe abrindo suas asas cor de prata saiu voando pela janela, então Clara Luz correu para a cozinha e abriu o livro de receitas na página dos bolinhos:

Bolinhos de Luz

250 g de raio de sol

250 g de raios de luar

1 c de chá de fermento de relâmpago

Maneira de fazer:

Mistura-se bem os raios de sol e de luar, até saírem faíscas.

Junta-se então o fermento de relâmpago.



− Que fácil! − pensou Clara Luz. − Não sei como certas pessoas podem achar difícil

fazer bolo!

E foi tirando os raios de sol e de luar dos potes onde estavam guardados, nas prateleiras. Despejou tudo num tacho e mexeu, como a receita mandava. A cozinha inteira começou a brilhar, faiscar e fazer barulho.

Quando chegou a hora do fermento, Clara Luz teve uma idéia:

− Fermento é que faz o bolo crescer. Se em vez de uma colher de chá, eu puser um relâmpago inteiro, vai sair um bolão enorme. Mamãe amanhã nem vai precisar fazer o bolo das velas.

É claro que não havia relâmpago inteiro em casa. Clara Luz não se atrapalhou:

− O jeito é eu ir para a janela e pescar o primeiro que passar.

Mas não foi fácil. Nenhum relâmpago concordava em entrar no bolo:

− Eu não, ora essa! Tenho mais o que fazer!

Afinal passou uma família inteira de relâmpagos: pai, mãe e cinco filhos. Ninguém deu confiança à Clara Luz mas, o menor de todos, um relampagozinho muito esperto ia no fim da fila.

− Pssiu! − chamou Clara Luz. − Você quer entrar no meu bolo?

− Eu não, que não sou bobo. Pensa que quero ser comido em festa de aniversário?

− Clara Luz pensou um pouco:

− Você entra e depois sai. É só para fazer o bolo crescer.

O relampagozinho começou a gostar da idéia:

− Puxa! Deve ser divertido mesmo...

E aí a confusão ficou do tamanho certo!

Fernanda Lopes de Almeida

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