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Olá amigos!

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domingo, 20 de maio de 2012

A bola

O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua
primeira bola do pai. Uma número 5 oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico.
Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse "Legal!". Ou o que os garotos dizem hoje em
dia quando não gostam do presente ou não querem 5 magoar o velho.
Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
— Como é que liga? – perguntou.
— Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
 — Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros.
Que os tempos são decididamente outros.
— Não precisa manual de instrução.
—O que é que ela faz?                                                                              
 — Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
— O quê?
— Controla, chuta...
— Ah, então é uma bola.
— Claro que é uma bola.
 — Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
— Você pensou que fosse o quê?
— Nada, não.
O garoto agradeceu, disse "Legal" de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê,
com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Ball, em
 que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao
mesmo tempo em que tentavam se destruir mutuamente.O garoto era bom no jogo. Tinha
coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do
pé, como antigamente, e chamou o garoto.
 — Filho, olha.
O garoto disse “Legal” mas não desviou os olhos da tela.O pai segurou a bola com as mãos e a
cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada.Talvez um
manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.

(VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 41 e 42.)

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