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domingo, 13 de fevereiro de 2011

O MAIS ESPERTO DOS ESPERTOS




 Maria Hilda de J. Alão
  

Era uma vez um tigre que morava na floresta. Um dia ele viu que um homem construía uma cabana no seu território e pensou:
“Como o homem é tolo! Será que ele não sabe que posso devorá-lo em poucos minutos?
Não resistindo, o tigre deu um forte rugido e foi consultar uma velha raposa considerada a mais sábia de todas as raposas que já viveram.
- Caro tigre, você não conhece os homens! Eles são ardilosos e muito perigosos.
- Não para mim! O homem é um ser fraco e covarde e com o golpe de uma das minhas patas eu posso dominá-lo. – respondeu abanando no ar a enorme pata de unhas longas e curvas.
- Amigo, não menospreze aquilo que não conhece. Nós, raposas, sabemos muito bem quem é o homem.
- Quero que a amiga me acompanhe e observe como eu posso vencer aquele ser frágil. – propôs o tigre.
Assim foi feito. O tigre, caminhando sorrateiramente, seguia o homem que procurava madeira forte para fazer a porta da casa. Minutos depois ele voltou com a madeira. Serra aqui martela ali e, em pouco tempo, estava feita a porta da casa. A raposa, que tinha um olho no tigre e outro no homem, tremeu quando ouviu a pergunta:
- Esta é sua casa, homem?
- Sim! – respondeu medrosamente o homem imaginando a força e a ferocidade do tigre.
O tigre sentiu o medo do homem e começou a imaginar o belo jantar que teria. Mas não ia se apressar. Para quê? Puxando conversa o tigre disse com desdém:
- Minha amiga raposa me contou que o homem é ardiloso e perigoso, porém eu, tigre, o mais esperto, mostrarei a ela quem será o vencedor.
Pensando em como sair daquela enrascada, o homem propôs choramingando:  
- Senhor tigre, pode ficar com a casa e tudo que tem dentro dela, mas não me devore.
E o tigre pensou: “Isso é ser corajoso, perigoso e inteligente? É chorão como qualquer covarde.” Ainda pensando em escapar do tigre, o homem enfatizou a oferta:
- A casa é forte e segura. No inverno o senhor ficará abrigado e aquecido. Nada de neve, nada de chuva nem de outros animais perturbando o seu sono.
O tigre aceitou a oferta pensando no jantar e na soneca que tiraria depois. Apressado ele se dirigiu para a porta da casa querendo entrar. Foi então que homem, pondo-se diante da porta, disse:
- Tem um problema. O senhor tigre não sabe como abrir e fechar a porta.
- Ensina-me! – gritou impaciente a fera.
- Veja senhor tigre, eu abro, eu entro e depois fecho a porta. Experimente tentar abrir esta porta de madeira nobre. – pediu, lá dentro da casa, o homem.
O tigre bateu, empurrou com as patas e a porta não abriu. Ainda do lado de dentro da casa, o homem perguntava:
- Então, ela não é segura como eu falei? Aqui dentro eu não tenho medo de nada.
O tigre, meio desconfiado, foi logo dizendo:
- Não queira bancar o espertinho. Sei que não pretendes sair daí. Saiba que eu sou um tigre e não um asno. Ninguém me engana.
- Que é isso, senhor tigre! Eu cumpro a minha palavra. Pode confiar.
A porta foi se abrindo lentamente e o homem saiu. Na cabeça do tigre mais um pensamento de arrogância: “Criatura estúpida! Teve a chance de escapar das minhas garras...” – e riu internamente. O homem convidou o tigre para testar a segurança da casa com paredes de pedra e porta maciça. Com o peito empolado, rabo levantado e um rugido forte, o tigre entrou apressadamente na casa. O homem, mais que depressa, fechou a porta com uma tranca e um grosso cadeado prendendo o tigre que se achava o mais esperto dos espertos. Recolheu as ferramentas e, antes de partir para a aldeia, gritou bem alto:
- Junte sua força e sua esperteza e vá jantar em outra freguesia.
A raposa, que passou todo o tempo escondida numa moita assistindo a tudo e não aguentando mais ouvir os urros do tigre disse:
- Sentiu o drama, bobão? Eu bem que avisei...
 Moral: Nunca menospreze a inteligência alheia.
 
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