Pedro
Malasarte, certo dia, largou a casa do pai, indo correr mundo. Logo no
primeiro dia encontrou um urubu com uma asa quebrada, batendo-se no meio
da estrada. Agarrou o urubu e meteu-o dentro de um saco, seguindo
caminho.
Ao
anoitecer, estava diante de uma casa grande e bonita, alpendrada. Pela
janela viu uma mulher guardando vários pratos de comidas saborosas e
garrafas de vinho. Observou atentamente tudo o que a mulher guardava e
onde guardava. Bateu e pediu abrigo, mas a mulher recusou, dizendo que o
marido não estava em casa e ficava feio ter um homem de portas a
dentro.
Malasarte
foi para debaixo de uma árvore e, logo depois, reparou na chegada de um
rapaz ainda moço, recebido com agrados pela dona da casa que o levou
imediatamente para jantar. Iam os dois começando a refeição quando o
dono da casa, o marido da tal mulher, apareceu montado num cavalo
alazão. O rapaz largou o jantar, pulou uma janela e fugiu. A mulher,
rapidamente, fez com que a comida desaparecesse dentro dos armários e
foi receber o marido.
Malasarte
esperou que o dono da casa mudasse os trajes e tornou a bater e pedir
dormida. O dono apareceu, mandou-o entrar, lavar as mãos e convidou-o
para jantar com ele.
A
comida que apareceu era outra, bem pobre e malfeita. Malasarte, sempre
com o urubu dentro do saco, deu-lhe com o pé, fazendo-o roncar, e
começou a falar baixinho, como se estivesse discutindo.
– Com quem está falando? – perguntou o dono da casa.
– Com esse urubu. Sim senhor, falando e adivinhando. Esse urubu é ensinado a adivinhar.
– Um urubu que fala? Impossível! Mas... se esse aí resolveu falar, diga-me: o que ele está adivinhando agora?
– Está me dizendo que naquele armário há um peru assado, arroz de forno, bolo de milho e três garrafas de vinho.
– Não me diga ... Procura aí, mulher!
A
mulher procurou e, fingindo-se assombrada pela surpresa, encontrou tudo
quanto anunciara “o urubu” e trouxe os pratos e o vinho para a mesa.
Comeram fartamente e o dono quis porque quis comprar o urubu. Pela manhã
Malasarte, muito contrariado, aceitou o dinheiro alto e foi embora,
deixando o urubu que nunca mais adivinhou coisa alguma.
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