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Olá amigos!

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Vamos contar

Dona Cotinha, Tom e Gato Joca

Dona Cotinha, Tom e gato Joca. Ilustração: Ionit Zilberman

Em frente à minha casa tem outra casa, pequena, de madeira, azul com janelas brancas. Está no fim de um terreno enorme com muitas árvores. Para mim aquilo é o que chamam de floresta. Tom diz que é um quintal. Ali mora dona Cotinha, uma velhinha que tem cabelos lilás e dirige um Fusquinha vermelho. Esse passou a ser meu esconderijo. Dona Cotinha sempre aparece com um prato de comida. Diz:

- Vem, gatinho. Olha só o que eu trouxe para você.

Sou premiado com sardinha fresca, atum, macarrão. Tenho engordado além da conta. Dia desses estava tomando sol e ouvi o Tom me chamar. O danado sentiu meu cheiro e descobriu meu segredo. Ele estava no portão quando chegou dona Cotinha, no seu Fusquinha.

- Bom dia, menino - disse ela. Já que está em frente à minha casa, faça uma gentileza e abra o portão.

Tom obedeceu. Dona Cotinha afagou minha cabeça e perguntou:

- Este gatinho é seu?

- Sim, senhora.

- Ele é muito educado.

- Obrigado - disse eu, na minha voz de gato.

- No primeiro dia que o vi por aqui, ele entrou na casa e cheirou tudo. Agora, sempre deixo uma comidinha para ele!

- Ah! Mas o Joca não come comida de gente, não, senhora. Só come ração - disse o Tom.

- Come, sim, meu filho. E come de tudo.

Dona Cotinha acabava de denunciar minha gula e o aumento de peso. Continuou:

- Passe aqui no fim da tarde. Faço um bolo de fubá com cobertura de chocolate que é de dar água na boca.

Com água na boca fiquei eu. Naquela tarde voltamos à casa de dona Cotinha. Ela foi logo mostrando pro Tom uma coleção de carrinhos antigos. Era do filho dela, que morreu bem pequeno. Depois nos levou para uma sala repleta de livros. Tom ficou de boca aberta e perguntou:

- A senhora já leu todos esses livros?

- Praticamente todos. Ler foi minha diversão, meu bom vício. Infelizmente meus olhos não ajudam mais. Essa pilha que você está vendo aqui ainda nem foi tocada.

Tom começou a ler em voz alta, e sua voz encheu a sala de seres fantásticos. O tempo parou.

Desse dia em diante, à tardinha, eu e Tom tínhamos uma missão. Abrir os livros de dona Cotinha e deixar os personagens passearem pela casa mágica, no meio da floresta da cidade de pedra.

lCléo Busatto, autora deste conto, é escritora e contadora histórias.

A menina e o sapo




Ilustração: Renato Ventura
Ilustração: Renato Ventura. 


Nina, menina airosa, formosa como ela só. 
Bonito era ver Nina correr. 
Ora corria rápido, feito tufão, ora devagar, parecendo brisa. 

Nina corria pelo jardim. 
Nina caía no gramado. 
Nina fazia folia. E ria. 

À noite, cansada das travessuras do dia, a menina dormia. 

Certa vez, enquanto passeava pelo jardim, Nina viu um sapo. 
Sapo também viu Nina. 
"Será que, se Nina beijar o sapo, sapo vira príncipe?" 
Nina não sabia, mas ficava imaginando como isso seria. 

Nina beijou o sapo. 
Sapo continuou sapo. 
Não virou príncipe. 
Mas se apaixonou por Nina. 

Agora, onde Nina está, lá se vê o sapo apaixonado suspirando pela menina. 

Na cabeça do sapo, Nina é uma princesa-sapa, transformada em menina por uma terrível feiticeira.

Marcia Paganini Cavéquia, autora deste conto, é pós-graduada em Metodologia do Ensino pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Se Eu Fosse Esqueleto

Se eu fosse esqueleto. Ilustração: Eduardo Recife

Se eu fosse esqueleto não ia poder tomar água nem suco porque ia vazar tudo e molhar a casa inteira.

Tirando isso, ia acordar e pular da cama feliz como um passarinho.

É que ser uma caveira de verdade deve ser muito divertido.

Por exemplo. Faz de conta que um banco está sendo assaltado. Aqueles bandidões nojentões, mauzões, armados até os dentões, berrando:

- Na moral! Cadê a grana?

Se eu fosse esqueleto, entrava no banco e gritava: bu!

Bastaria um simples bu e aquela bandidagem ia cair dura no chão, com as calças molhadas de úmido pavor.

O gerente e os clientes do banco iam agradecer e até me abraçar, só um pouco, mas tenho certeza de que iam.

Se eu fosse caveira, de repente vai ver que eu ia ser considerado um grande herói.

Fora isso, um esqueleto perambulando na rua em plena luz do dia causaria uma baita confusão. O povo correndo sem saber para onde, sirenes gemendo, gente que nunca rezou rezando, o Exército batendo em retirada, aquele mundaréu desesperado e eu lá, todo contente, assobiando na calçada.

Um repórter de TV, segurando o microfone, até podia chegar para me entrevistar:

- Quem é você?

E eu:

- Sou um esqueleto.

E o repórter:

- O senhor fugiu do cemitério?

Aí eu fingia que era surdo:

- Ser mistério?

E o repórter, de novo, mais alto:

- O senhor fugiu do cemitério?

- Assumiu no magistério?

- Cemitério!

- Fala sério? Quem?

Aí o repórter perdia a paciência:

- O senhor é surdo?

E eu:

- Claro que sou! Não está vendo que não tenho nem orelha?

Se eu fosse esqueleto talvez me levassem para a aula de Biologia de alguma escola. Já imagino eu lá parado e o professor tentando me explicar osso por osso, dente por dente, dizendo que os esqueletos são uma espécie de estrutura que segura nossas carnes, órgãos, nervos e músculos.

Fico pensando nas perguntas e nos comentários dos alunos:

- Como ele se chamava?

- É macho ou fêmea?

- Quantos anos ele tem?

- Tem ou tinha?

- Magrinho, não?

- O cara sabia ler ou era analfabeto?

- E a família dele?

- Era rico ou pobre?

- O coitado está rindo de quê?

E ainda:

- Professor, ele era careca?

Enquanto isso, eu lá, no meio da aula, com aquela cara de caveira, sem falar nada para não assustar os alunos e matar o professor do coração.

Uma coisa é certa. Deve ser muito bom ser esqueleto quando chega o Carnaval. Aí a gente nem precisa se fantasiar. Pode sair de casa numa boa, cair no samba, virar folião e seguir pela rua dançando, brincando e sacudindo os ossos. Parece mentira, mas, no Carnaval, porque é tudo brincadeira, a gente sempre acaba sendo do jeito que a gente é de verdade.

Se eu fosse esqueleto, quando chegasse o Carnaval, ia sair cantando:

Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela


Todo mundo sabe que o maior amigo do homem é o cachorro.

O que a maioria infelizmente desconhece e a ciência moderna esqueceu de pesquisar é que o pior inimigo do esqueleto late, morde, abana o rabo, carrega pulgas e aprecia fazer xixi no poste.

E se eu fosse esqueleto e por acaso um vira-lata me visse na rua, corresse atrás de mim e fugisse com algum osso dos meus?

Ricardo Azevedo, autor deste conto, é escritor e ilustrador. Já escreveu mais de 100 livros para crianças e jovens, entre eles Trezentos Parafusos a Menos (Ed. Companhia das Letrinhas) e Contos de Espanto e Alumbramento (Ed. Scipione). É ganhador de vários prêmios, entre eles o Jabuti, que venceu cinco vezes.

Viva a Paz!

Viva a paz! Ilustração: Rogério Fernandes

Dois gatinhos assanhados
se atracaram, enfezados.
A dona se irritou
e a vassoura agarrou! 

E apesar do frio, na hora,
os varreu porta afora,
bem no meio do inverno,
com um frio "do inferno"! 

Os gatinhos, assustados,
se encolheram, já gelados,
junto à porta, no jardim,
aguardando o triste fim! 

De terror acovardados,
os dois gatinhos, coitados,
não puderam nem miar,
lamentando tanto azar! 

Sem ouvir nenhum miado,
a dona, por seu lado,
dos gatinhos teve dó,
e a porta abriu de uma vez só! 

Mesmo estando tão gelados,
os dois gatinhos arrepiados
Zás! Bem junto do fogão
surgem, sem reclamação! 

E a dona comentou:
tanto faz quem começou!
Uma encrenca boba assim
bom é que tenha logo um fim! 

E ela acrescentou, então,
não querem brigar mais, não?
E os gatinhos, enroscados,
esqueceram da briga, aliviados. 

Confortados, no quentinho,
com sossego e com carinho,
dormem bem, bichos queridos,
já da briga esquecidos.

Tatiana Belinky, adaptadora desta cancão popular inglesa, é escritora e tradutora. Tem mais de 100 livros publicados. Em 1989, ganhou o Prêmio Jabuti por sua trajetória literária.